Printei um e-mail com um briefing sobre download de software que, desde um site, me permitirá implementar items de franchising, outsourcing, benchmarking, corporate image e e-commerce, powered by um Internet server provider muito eficaz. If I understood correctly professor Malaca Casteleiro mass media explanations about the new portuguese Academy dictionary, isto agora torna-se so easy, so friendly. Já era tempo! Abaixo as aspas! Morram os itálicos! Extingam-se os sublinhados! Já podemos falar e escrever como nos apetece no nosso país, sem que um marreta qualquer nos corrija em nome de Shakespeare. Na verdade, quando dizemos take-away (DN de ontem), já não estamos a falar necessariamente inglês de Oxford ou Harvard, mas português académico. Uma variante só nossa! Tal como o american english, o portuguese english! Ainda não tive o gosto de encontrar nas livrarias o grande dicionário (lançado ontem): todavia, a ser exacto o que li há meses no Expresso, não posso deixar de criticar o autor. Peca, a meu ver, por defeito. Exemplo: adapta metade da palavra stress (stresse). Não entendo o que faz, no fim do termo, aquele lusitaníssimo "e". Se se torna português pela universalidade o vocábulo take-away, stress não é menos universal. E o sinistro lobby? Porquê alterar-lhe a grafia para um "lóbi" inestético? O doutor Casteleiro, embora corajoso, não teve coragem bastante. Na era da globalização (ressalvo: há quem remonte a globalização à época de Cristo), já não faz sentido o aportuguesamento antigo, mas o aportuguesamento à moderna, inaugurado pela irmã academia do Brasil. Ou seja: em vez de procurar vernáculo adequado ou criar desesperadamente o lusismo "sofetuere", devem incluir-se anglicismos como software na lista de termos utilizados em Portugal. Isto, sim, é tirar obstáculos à mundialização! A nossa língua torna-se cada vez mais uma lista de termos ingleses que, dia após dia, substituem inúteis palavras que aprendemos no berço. Haja, portanto, coerência. Deixemo-nos das meias-tintas que este dicionário de portinglês ainda é. Os modernos lusos requerem obra que promova definitivamente o nosso idioma a variante do inglês. Estará a Academia à altura da magna tarefa? Saberá o suficiente da língua de Chaucer? Não confundirá mailing com mailing list? Há que tirar isso a limpo! Pressinto, contudo, que o doutor Casteleiro está no bom caminho, quando o ouço defender na rádio a seguinte concordância: segundo ele, empregam-se sempre no masculino designações de cargos como primeiro-ministro, mesmo que exercidos por uma mulher. Nunca, pois, "a primeira-ministra Lurdes Pintasilgo", como defendem os gramaticões e as feministas. Ou "a sargenta Maria dos Anjos", como querem as caturras – e, neste caso, ainda popularuchas – chefias das Forças Armadas. A concordância do doutor Casteleiro implementa-nos a mercê de nos aproximar do inglês, língua em que a expressão "the prime-minister" serve para mulher e para homem. Bem haja! Temo, no entanto, que a ilustre Academia esteja a perder tempo. Em escolas de Zurique ("Público" de ontem), já se aprende o inglês como primeira língua. E, se não somos nós apenas que fazemos o idioma, se é ele também que nos faz a nós (como escreveu, no século XIX, o alemão G. Herder), então deixemo-nos de tibiezas: dêmos às nossas crianças a possibilidade de aprenderem logo na pré-primária a língua do topo, da produtividade e do sucesso, tornando-as mais competitivas e, portanto, mais preparadas para atingir o nosso objectivo inalcançado: a média económica da União Europeia. Nesta perspectiva, à grandiosa obra da Academia parece preferível um bom dicionário de inglês-inglês.
Publicado no jornal português Diário de Notícias em 27 de Abril de 2001.