Em termos políticos, este ano tem sido agitado, muito por conta das inúmeras eleições que têm vindo a ocorrer no seu decurso em diferentes países. As eleições legislativas portuguesas, realizadas em março, ditaram o crescimento da chamada extrema-direita, já em França, após as eleições europeias, que ocorreram em junho, o Presidente Emmanuel Macron decidiu dissolver a assembleia legislativa e marcar novas eleições cujos resultados ditaram uma ascensão do principal partido de extrema-direita e deixaram a segunda maior economia da zona euro num impasse governativo. Também nos Estados Unidos, com o aproximar das eleições presidenciais em novembro, o debate político tem sido marcado por algumas tensões e surpresas, como o atentado sofrido pelo candidato republicano Donald Trump e a desistência do candidato democrata e atual presidente Joe Biden. Todos estes acontecimentos têm provocado discussões em torno da palavra democracia. Embora seja um termo frequentemente ouvido e utilizado, não deixa de ser interessante questionar a história desta palavra e o seu funcionamento no âmbito da língua portuguesa.
Democracia tem origem no vocábulo grego δηµοκρατία (demokratía), que significa justamente «governo popular». Segundo o Dicionário da Língua Portuguesa da Academia das Ciências de Lisboa (DLPACL), democracia tem como sentidos possíveis: «sistema político em que o poder reside no povo e dele emana, exercendo este a sua soberania direta ou indiretamente, através de representantes escolhidos em eleições livres e periódicas, que garantam a todos os cidadãos a possibilidade de elegerem e serem eleitos», «regime político que assente na supremacia do poder executivo, por vezes, com o apoio da classe militar» ou ainda «estado onde vigora um regime político em que os cidadãos escolhem os seus governantes através de atos eleitorais». Do ponto de vista morfológico, este termo resulta da junção do nome demo, com origem no grego clássico (δῆµος) e que tem com possíveis significados povo e região, com o elemento compositivo -cracia e que serve para exprimir «a noção de poder». Este elemento de formação, também de origem grega, é igualmente usado na constituição de palavras como teocracia (sistema em que o governo é exercido por alguém considerado representante do divino) ou autocracia (forma de governo em que a lei reside na vontade de um único governante).
Relacionado com a palavra democracia, está o termo democrata, utilizado para referir quem «perfilha os ideias da democracia, da igualdade de direitos dos cidadãos e da liberdade» ou «é partidário do regime democrata» (DLPACL). Pode ainda ser usado para designar aquele «que é relativo à doutrina, ao regime ou aos partidos democráticos» ou então «que convive naturalmente com todas as classes sociais ou hierarquias» (DLPACL). À semelhança do que se verifica com democracia, também democrata é formado pela junção do nome demo ao elemento de formação de origem grega -crat(a) e que tem como sentidos domínio e poderio. Este sufixo é de igual modo usado na formação de palavras como teocrata (membro ou defensor de uma teocracia) e autocrata (que exerce um poder absoluto e ilimitado).
A origem grega destas palavras e dos seus elementos de formação remete precisamente para o berço da democracia, a antiga Grécia. Por volta de 508 a. C., na cidade de Atenas, terá sido criado este sistema político que representava uma alternativa à tirania (conquista do poder pela força ou governo institucional, exercido por um tirano). Este sistema foi então assente na ideia de igualdade de todos os cidadãos perante a lei, permitindo a participação livre destes na vida política. Ao longo dos séculos, este sistema foi evoluindo, passando a incluir também a participação de mulheres e estrangeiros. Resta-nos agora decidir qual será o curso dessa evolução no século XXI.