Regressar: verbo intransitivo e transitivo indireto. Assim o classifica a gramática, o que significa que este verbo pode ora existir sozinho (posso apenas regressar e não dizer onde ou ao quê) ora pedir um complemento (posso regressar a algum sítio ou a algo).
Regressar é o verbo do mês de setembro. Pensamentos e práticas envolvem-no sistematicamente. Regressamos ao trabalho, à escola, a casa, às rotinas, à vida do quotidiano.
Diz-nos, todavia, o dicionário que regressar significa “retornar ao local ou circunstância inicial”, “voltar ao ponto de partida”. É aqui que a vida deixa de bater certo com a lexicografia. O nosso regresso nunca é ao ponto de partida. O nosso regresso nunca é começar do zero. Regressamos ao ponto em que ficámos. Regressar é colocar em andamento o que tinha ficado em pausa.
O tempo não nos permite cumprir o verdadeiro significado de regressar. Que bom seria poder recomeçar algumas coisas que fizemos mal. Que bom seria poder ensaiar outros caminhos. Nada disso é de facto possível. É por essa razão que, ao contrário do que afirma o dicionário, regressar não é verdadeiramente retroceder, retornar ou reverter. Regressar é apenas retomar, continuar ou prosseguir.
E visto que assim é, resta-nos, nesta nossa limitação humana, regressar da melhor forma possível, corrigir alguns erros no caminho, que se faz andando e que falta palmilhar, e desejar que o regresso possa acontecer em boa hora.
Áudio disponível aqui:
[AUDIO: Regressar]
Crónica da professora Carla Marques na sua rubrica emitida no programa Páginas de Português, na Antena 2, no dia 5 de setembro de 2021.