A recorrente dúvida na utilização do porque e do por que nas frases interrogativas aqui clarificada – segundo a norma do português de Portugal (que não a do Brasil) –, neste trecho integralmente retirado, e com a devida vénia, da Gramática-Prontuário da Língua Portuguesa, de Álvaro Garcia Fernandes (Lello Editores, págs. 175-177).
A) Qual a causa/a razão por detrás da acção?
Variante 1): advérbio interrogativo “porque” – com a variante tónica “porquê”
– Porquê? Não sei porque fizeste isso!/Quero saber porque o fizeste.
Variante 2): construção com a preposição “por” e o determinante interrogativo “que”(= qual*…) seguido ou precedido necessariamente do substantivo que determina(neste caso, “razão”/”motivo” ou equivalente).
= Por que razão/Não sei por que motivo fizeste isso./Quero saber a razão por que o fizeste.
Resposta: Apresenta-se, normalmente, sob a forma de uma oração subordinada adverbial – compl. circunstancial de causa –, introduzida pela conj. subordinativa causal “porque”.
– Fiz isso porque me apeteceu.
B) Caso específico em que o verbo rege a preposição “por”
1. A interrogação aponta para um alvo ou objectivo da acção – com a alternativa coisa ou pessoa (por que coisa?/por que pessoa = por quem) – e não para a razão ou o porquê da acção como no caso anterior.
Variante 1): os pronomes interrogativos “que” (= o que)/quem
– Por que lutas? – Por quem lutas? lutar por…
Variante 2): o determinante interrog. “que” (= qual*) + o substantivo determinado
– Por que coisa lutas? – Por que candidato lutas?
Resposta: Neste caso a resposta pode ser introduzida pela preposição “por” mas não pela conjunção causal “porque”.
– Luto pela independência! – Luto pelo candidato X!
2. Outros casos: utiliza-se o determinante interrogativo “que” (= qual*) seguido ou precedido necessariamente do substantivo que determina.
P. – Por que fases passa a investigação? Passar por…
R. – Passa pelas fases indicadas no plano!
Diferenças de sentido de A e B, com a variante 1)
A) (votar)
P. Porque votas? = Por que razão vota? = Qual a razão por que votas?
R. Porque acho ser meu dever votar./Porque quero a vitória do meu partido.
– Não voto porque não tenho motivo para votar.
P. Pourquoi…? = Pour quelle raison…? R. Parce que…
P. Why…? = For what reason…? R. Because…
B) (votar por… )
P. Por que votas? = Por que coisa (alternativa/programa) votas?
R. Voto por aquilo em que acredito. Não tenho por que votar.
P. Por quem votas?
R. Voto pelo candidato X. Não tenho por quem votar.
Esta construção coma preposição “por” e o pronome interrogativo “que” (= o que) pode, com alguns verbos, levar a ambiguidades na linguagem oral, devido à semelhança fonética com o advérbio interrogativo “porque” com diferente sentido.
A – Porque vais? – Porque se faz tarde.
B – Por que vais? – Vou pelo pão! Ir por… = ir em busca de…
B – Por quem vais? – Vou pelo meu irmão…
B – Por que esperas? – Pela guia de marcha.
B – Por quem esperas? – Pelo meu colega.
A – Porque esperas? – Porque prometi esperar.
Nota: Em qualquer dos casos, a variante 2) (determinante + subst.) resolve qualquer ambiguidade.
In Gramática-Prontuário da Língua Portuguesa, de Álvaro Garcia Fernandes (Lello Editores, Porto).