«Criado em 1989 em 1989 na primeira reunião dos chefes de Estado de todos os países que adotam o português como língua oficial, [o IILP] é hoje o fórum para a gestão compartilhada de todos os aspectos da língua que sejam do interesse conjunto desses países.»
O português é uma língua em franca expansão no cenário internacional: vem crescendo o número de seus falantes como primeira e segunda língua e como língua estrangeira.
Não podemos dormir no ponto: essa conjuntura favorável está a exigir políticas mais articuladas e investimentos mais consistentes na promoção da nossa língua.
O Brasil não está ausente dessa promoção. Temos um bom exame de proficiência (o Celp-Bras) e o Itamaraty mantém no exterior uma rede de Centros de Estudos e de leitorados universitários. Não temos tido, porém, condições de atender à crescente demanda porque nos falta um orçamento melhor.
Para continuar a conquistar espaço, o português precisa também de iniciativas conjuntas dos países que o tem como língua oficial. O instrumento para essas ações multilaterais é o Instituto Internacional da Língua Portuguesa (IILP), órgão da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP).
O IILP foi criado em 1989 na primeira reunião dos chefes de Estado de todos os países que adotam o português como língua oficial. É hoje o fórum para a gestão compartilhada de todos os aspectos da língua que sejam do interesse conjunto desses países.
Em 2010 e 2013, a CPLP realizou Conferências Internacionais sobre o Futuro da Língua. Delas emergiram dois Planos de Ação que orientam a sua promoção multilateral, estimulando seu ensino, sua presença nos organismos internacionais, na internet e nas atividades científicas; e difundindo a produção criativa em português.
Cabe ao IILP a tarefa de fomentar a realização dessas metas. Viveu, infelizmente, durante vinte anos em estado falimentar. Só em 2010, no Plano de Ação de Brasília, foram dados passos efetivos para consolidá-lo.
A atual direção do Instituto1, apesar de continuar a sofrer com problemas financeiros (o Brasil, por exemplo, está com três anuidades atrasadas), conseguiu estimular a criação das Comissões Nacionais em todos os países da CPLP e pôde igualmente viabilizar metas que lhe foram atribuídas na I Conferência.
Destas, vale mencionar a construção do Portal do Professor de Português Língua Estrangeira, plataforma virtual que oferecerá gratuitamente aos professores recursos didáticos produzidos por equipes de cada um dos países da CPLP. O projeto incorpora assim a diversidade do português sem descurar de sua unidade.
A maior iniciativa da atual direção do IILP é o Vocabulário Ortográfico Comum (VOC) previsto no Acordo Ortográfico de 1990. Para sua execução, o IILP assinou um convênio técnico com o Instituto de Linguística Teórica e Computacional da Universidade de Lisboa e com a Universidade Federal de São Carlos. E constituiu uma equipe de consultores com especialistas dos países da CPLP. O projeto já recebeu apoio financeiro do governo de Angola e do Camões – Instituto da Cooperação e da Língua (Portugal).
O VOC já conseguiu, pela primeira vez na história da língua, unir numa só plataforma todas as bases léxico-ortográficas portuguesas e brasileiras. Só isso é um magno acontecimento. Há, contudo, mais: o projeto está promovendo a elaboração de Vocabulários Ortográficos Nacionais onde não havia. O de Moçambique e o de Timor-Leste estão prontos; e os demais em andamento.
Com o VOC, teremos à disposição não só uma referência comum e segura da ortografia, mas também novos acervos lexicais que permitirão enriquecer os dicionários da língua.
A gestão da ortografia é apenas uma das muitas tarefas que cabem ao IILP. Sua consolidação, meta hoje claramente assumida pela CPLP, contribuirá significativamente para garantir o futuro do português no cenário mundial.
1 N.E. – Para tudo o que o IILP concretizou nos últimos anos, foi determinante a ação do seu diretor executivo Gilvan Müller de Oliveira (na foto, à esquerda), alvo de uma declaração de apreço no final da X Conferência de Chefes de Estado e de Governo da CPLP, realizada em Díli entre 18 e 23 de julho de 2014. Visto o mandato de Müller de Oliveira terminar em outubro de 2014, foi eleita em sua substituição, na referida cimeira, a moçambicana Marisa Guião de Mendonça, diretora da Escola Superiror de Contabilidade e Gestão de Línguas da Universidade Pedagógica de Moçambique.
Outros textos do autor: aqui e aqui.
artigo publicado com o título original "O Instituto Internacional da Língua Portuguesa" no jornal Folha de São Paulo de 14 de julho de 2014.