Dúvidas, erros e tropeções na ortografia facilmente resolúveis pela consulta de um dicionário, esse «nosso grande mestre mudo», eis o incentivo do autor nesta sua crónica à volta dos usos do português em Angola, publicada no semanário luandense Nova Gazeta do dia 3/09/2015.
Mesmo sem querer, prefiro crer que tenha sido devido à ansiedade ou ao medo de ser ‘apanhado’ por alguns dos alegados criminosos apresentados pela nossa televisão pública, a TPA.
Foram vários os jovens tidos como «altamente perigosos» e, por isso, pediram a quem tivesse qualquer informação sobre eles que «não ezitasse» em denunciá-los às autoridades.
De qualquer dos modos, independentemente do nível do medo que estejamos a sentir, convém – sempre que possível – manter alguma calma, serenidade, para que os papéis de vítima e de criminoso não sejam invertidos. Há meios suficientes aos quais podemos recorrer para evitarmos erros crassos como o do anúncio de um órgão como é o que fez tal anúncio. Escrever «não ezite» não é de todo um crime, mas pode induzir o meu menino de apenas 12 anitos a pensar que não há problema, sobretudo vindo de onde/quem vem.
E este é apenas um de tantos outros. Já li que, pela mesma via, o Governo, ou outro órgão cujo nome não me ocorre no momento, estava a criar «insentivo» para ajudar os jovens. Nesses casos, como já dizia um professor no secundário, se é para que a coisa saia bem feita, é melhor cabular de um dicionário. Ninguém pode ser crucificado por consultar um dicionário. Eu até dou o meu incentivo a quem – sempre que hesitar – consultar o nosso grande mestre mudo.
Nem o Acordo Ortográfico prevê a alteração de palavras que iniciem com a letra h, embora no Brasil se escreva úmido ao invés de húmido. Mas este caso é assumido pelos brasileiros, não aparece como um registo do português europeu.
Ao contrário do que li – e muitos mais viram –, eu recomendo que quando sentir alguma dúvida na ortografia de uma palavra (g ou j?; c, s ou ç?; ora ou hora?; ezite ou hesite?; eziste ou existe?), recorra a um dicionário. NÃO HESITE!
Crónica da autoria de Edno Pimentel e publicada na coluna Professor Ferrão do jornal luandense Nova Gazeta, em 3/09/2015. Manteve-se a ortografia conforme a norma ainda aplicada em Angola, a qual é anterior ao Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa.