O que têm contração, retração e contenção em comum? Ouvindo o discurso do ministro do Estado e da Economia português, Pedro Siza Vieira, no parlamento, no âmbito da discussão do Orçamento de Estado, poderíamos ser levados a pensar que são sinónimos indistintos.
Analisemos, pois, o seu sentido para percebermos até onde podem ir os usos.
O significado matricial de contração está relacionado com a ação de assumir um encargo ou um empréstimo. Diz-se, nesta aceção, «a contração de um empréstimo». Já a expressão «contração da economia» assenta numa construção metafórica que deriva da área da fisiologia, onde a palavra é usada com o sentido de «diminuição do volume das fibras musculares». Concebe-se, deste modo, a economia como um sistema vivo que se pode contrair e distender.
A palavra retração sublinha a ação de encolher, de voltar atrás, pelo que a expressão «retração da economia» será equivalente a «contração da economia» nesta perspetiva de organismo que se encolhe.
Contenção, por seu turno, embora rime com as anteriores, não pertence ao mesmo grupo de significação, pois trata-se de um nome usado no plano das atitudes, ações ou decisões. Significa «ação de reprimir(-se)» ou «ato ou efeito de conter ou de se conter». Esta palavra é, assim, usada em expressões como «contenção da inflação», querendo referir a ação de impedir o avanço de algo.
Em síntese, enquanto contração e retração, no plano metafórico, apontam para a diminuição de algo, a contenção descreve a ação que procura impedir que algo cresça. São perspetivas diferentes que, no plano da economia, descreverão realidades que têm lugar em momentos diferentes: a contenção tem lugar antes de algo ter lugar e procura impedi-lo; a contração ou a retração são a constatação de que algo está a ter lugar e já não se pode impedir.
É sempre bom recordar, porque a economia e os orçamentos também se dizem em bom português!