Li a palavra conspiritualidade pela primeira vez num artigo publicado no Diário de Notícias, de 26 de março de 2024. O texto tinha por título «A influência dos pastores evangélicos nos votos: "Não vamos parar até que a Bíblia entre no Parlamento"».
Este neologismo, como facilmente se percebe, é uma mescla de conspiração com espiritualidade e associa, segundo a jornalista, citando Valdinei Ferreira, doutor em Sociologia pela Universidade de São Paulo, as «teorias da conspiração» e a «espiritualidade». A conspiritualidade visa, forjando factos falsos e usando a desinformação, alimentar a espiritualidade e aumentar a devoção nos fiéis evangélicos, provocando o medo, e deste modo influenciar as suas decisões políticas e o seu sentido do voto.
Vale a pena dizer que o termo parece decalcar o inglês conspirituality, o qual se forma como amálgama de conspiracy (em referência às teorias da conspiração, em inglês conspiracy theories) e spirituality («espiritualidade»). É um termo que parece ter sido cunhado, em 2011, pelos sociólogos Charlotte Ward e David Voas, no estudo "The Emergence of Conspirituality", publicado no Journal of Contemporary Religion. A palavra surge no contexto das críticas à convergência que, desde os anos 90, se tem operado entre o pensamento do movimento New Age e as teorias da conspiração surgidas nos Estados Unidos e noutros países. A referência agora aplicada a certas igrejas evangélicas traduz, portanto, um alargamento do escopo do termo conspiritualidade, abrangendo assim também estes movimentos cristãos ultraconservadores.
Uma última nota: a dado passo do texto é ainda referido «Houve até quem tenha vindo do Brasil para “conspiracionar”», verbo que deriva do substantivo conspiracionismo, outra das designações para as «teorias da conspiração». O "conspiracionar" será, pois, a forma de realizar os atos ou o conjunto de ações que visam pôr em prática as teorias da conspiração.