«Façamos de cada dia um dia da educação. Sejamos capazes de contrariar a desgraça e compensar o pesado fardo que esta pandemia deixará à atual geração de jovens e crianças, para que possam desenvolver integralmente o seu potencial e as suas capacidades, contribuindo para a construção de um mundo melhor.»
Comemora-se hoje oficialmente o Dia Internacional da Educação, com o tema "Recuperar e revitalizar a educação para a geração da covid-19". Nada mais apropriado no momento em que as nossas escolas do pré-escolar, básico e secundário se encontram encerradas devido à terrível situação que Portugal atravessa, com um número crescente de infetados e mortos, e um Serviço Nacional de Saúde à beira do colapso.
Além de a educação ter sido consagrada como direito humano em 1948, a instituição do dia 24 de janeiro como Dia Internacional da Educação, pela Assembleia Geral das Nações Unidas em 2018, tem o objetivo de assinalar o contributo desta para a paz e o desenvolvimento sustentável, para a erradicação da pobreza, a melhoria das condições de saúde, a promoção da igualdade de género e para a construção de democracias mais resilientes. Não há lugar a dúvidas: a educação é a pedra basilar de sociedades melhores.
As escolas estão fechadas por 15 dias. Uns são a favor, outros são contra; uns eram a favor ontem, mas são contra hoje e não sabemos o que pensarão amanhã. Eu mesma não tenho certezas e por isso confio em quem sabe mais. Casa onde não há pão, todos ralham e ninguém tem razão. Em vez de estarmos unidos contra o inimigo comum, quase todos procuram um alvo fácil para culpar pelo estado de coisas, porque é mais fácil olhar à volta e disparar do que reconhecer as falhas próprias. E infelizmente muita gente olha o seu umbiguinho e faz a sua vidinha como se nada de anormal se passasse.
Há temas tão transversais às sociedades que todos nos achamos capazes de os debater na praça pública; entre eles têm lugar cativo a língua portuguesa e a educação; hoje há também uma nova geração de especialistas em saúde pública e epidemiologistas. Impera em muitas sociedades uma forte desconfiança na ciência, no sistema e nas instituições, alimentada pelos que vivem de discursos de ódio, que semeiam ventos mas claudicam perante a mais insignificante pequena tempestade. Curiosamente, são os mesmos que acham que antigamente é que era bom, que há licenciados a mais e que o que importa é ter trabalhadores desqualificados com salários de miséria.
Não há dúvidas de que a geração da covid-19 sofreu já danos irreparáveis no seu processo educativo, desenvolvimento e saúde mental. Estamos ainda a percorrer este doloroso calvário e, portanto, longe de conseguir avaliar com rigor os prejuízos. Muito já escreveram especialistas sobre os impactos negativos da covid-19 na educação, sobre o quanto contribuiu para aprofundar desigualdades sociais, deixando a nu o quanto os mais frágeis (sobretudo famílias que não tiveram ou tiveram acesso reduzido à educação) são vulneráveis a este e a qualquer flagelo social. Tenho a certeza de que aqueles que nos governam estão cientes de tudo isto. E de muito mais. Que fazem o melhor que conseguem. E confio.
Comemoremos o Dia Internacional da Educação. Façamos de cada dia um dia da educação. Sejamos capazes de contrariar a desgraça e compensar o pesado fardo que esta pandemia deixará à atual geração de jovens e crianças, para que possam desenvolver integralmente o seu potencial e as suas capacidades, contribuindo para a construção de um mundo melhor.
Artigo publicado no Diário de Notícias no dia 25 de janeiro de 2021.