A interrogação-surpresa do título em cima é minha – e a afirmação é de Luís Osório, autor da opinião que se pode ler aqui. O título, confesso, desafiou-me a lê-lo num ápice, deixando-me, porém, verdadeiramente perplexa: estudar gramática nas aulas de Português é um crime contra o futuro?! Estudar sintaxe não estimula o pensamento?! Conhecer a estrutura e o funcionamento da língua não serve para saber escrever com rigor e correção?!
O sucesso de um bom texto resulta, do meu ponto de vista, da simbiose entre dois atributos: técnica e talento. Porque escrever bem é, sem dúvida, uma técnica e só se dominará essa técnica se se conhecer as regras de funcionamento da nossa língua materna, nos seus diferentes domínios.
São poucos os que têm o dom de escrever sem o conhecimento consciente (e uso) dessas regras – Vergílio Ferreira, Lobo Antunes, Saramago são alguns bons exemplos de quem possui esse engenho inato, como bem refere o autor do artigo, e, por essa razão, têm a legitimidade de explorar desvios a qualquer lei linguística, inventando novas palavras, alterando estruturas sintáticas, ou não fazendo uso da pontuação. Mas essa dádiva, infelizmente, é de poucos. Todos os demais milhões de falantes de língua portuguesa que não nasceram com o dom da palavra só saberão produzir um bom texto se conhecerem a dita técnica.
E é esta técnica que Luís Osório adjetiva de «verdadeiro inferno». Considera ele que estudar gramática nas aulas de Português é um crime…
Lembrei-me então do que a esse respeito observava uma das minhas grandes mestres, a professora Maria Helena Mateus:
«Se um professor não sabe como explicar a construção das frases, do texto, da entoação e sons com que se constrói esta maravilha que é uma língua, é [então] absurdo assacar ao ensino da língua materna erros, dislates e desinteresse que sente um estudante que julga que aprender português é só ter lido alguns livros (quando o faz) e não dar erros de ortografia. Deste modo, ele nem sequer vai tomar consciência da razão por que um texto literário é melhor do que outro, ou por que uma instrução ou uma lei pode ser ou não ser ambígua.»