Machado de Assis queria que a Academia servisse sobretudo para «conservar no meio da federação política a unidade literária». Ninguém serviu melhor a esse ideal do que Araripe Junior.
Devemos atentar nisto com o maior cuidado. A federação política está feita, embora ande por aí adulterado e claudicando o pensamento constitucional que marcou no Brasil essa forma de vida, que os espíritos mais adiantados do Império, nos últimos tempos deste, já namoravam, desiludidos de corrigir a atrofia do centro.
A unidade literária será uma função lógica e natural do triunfo do idioma. Graça Aranha entreviu essa vitória nas mais belas páginas do seu livro, mas não devemos confiar que ela nos esteja assegurada sem um esforço constante da nossa parte para manter tão alta e bela conquista. Só esse trabalho, pelo comércio ininterrupto das letras e pela difusão ampla e larga do ensino, poderá nivelar as dissemelhanças linguísticas regionais, que as disparidades mesológicas favorecem, num país vasto como o nosso, e a invasão em massa de elementos de fora agrava sobremodo. Todo homem de inteligência e de preparo entre nós deve ser uma força militante e educadora, escrevendo o mais que puder para assegurar o património inestimável e habilitá-lo assim a resistir melhor, pelo apuro da cultura, à fragmentação dolorosa que se receia.
Da "Rev. da Acad. Bras. de Letras, n.º 12, Rio, 1913, pág. 352, in "Paladinos da Linguagem" 3.º vol., Aillaud e Bertrand, Lisboa, 1923.