Antologia // Portugal Pureza da Linguagem Tudo que seja defender e preconizar a beleza e pureza da linguagem é um óptimo serviço feito às Letras. Não quer dizer que esse louvor, para quem o entenda em sentido mesquinho, deva fempecer a vida latejante, a poesia alada, a originalidade e a arte de cada publicista, prendendo-lhe o voo às rebuscadas do Léxico. Já Eça de Queiroz dizia a Camilo, na deliciosa carta póstuma, que Camilo não chegou a ler: "Falando de V. Exª, eu considero sempre a sua imaginação, a sua maneira de ver o mundo, o ... Júlio Brandão · 28 de novembro de 1997 · 3K
Antologia // Brasil A Língua Portuguesa Soneto do poeta e jornalista brasileiro Olavo Bilac (1865-1918) incluído na antologia Paladinos da Linguagem, organizada por Agostinho de Campos. Olavo Bilac · 21 de novembro de 1997 · 11K
Antologia Ode à Língua Portuguesa Língua minha, se agora a voz levanto,Pedindo à Musa que me inspire e ajude,Somento soe em teu louvor o canto,Inda que a lira seja fraca e rude;E tudo quanto sinto na alma, o digo,Já que na alma não cabe,Contigo viva e acabe — só contigo.Língua minha dulcissona e canora,Em que mel com aroma se mistura,Agora leda, lastimosa agora,Mas não isenta nunca de brandura;Língua do gram Camões, a que ele ensinaA sinfonia rara,Que em tudo se compara — co´a latina. José Albano · 14 de novembro de 1997 · 3K
Antologia // Portugal Casa do Ser Língua, Casa do Ser que lá não mora,E, se chama, não está por morador,Que só em nós o verbo se demoraComo sombra de sol e eco de amor.Abrigo sim, porém sem tecto, foraDe torre ou porta, os muros no interior:Assim a Casa essente rompe à auroraPara se incendiar com o sol-pôr.É a noite o seu rápido alicerce,Enquanto Casa, que não Ser (aéreoO que nem isso é ia eu dizerNo hábito verbal que corta cerceA hastilha do jardim da Casa, etéreoMensageiro de fogo. Pode ser). Vitorino Nemésio · 31 de outubro de 1997 · 4K
Antologia // Portugal Lamentável sabujice A preferência do estrangeirismo ao idioma nacional «Na língua verdadeiramente reside a nacionalidade; e quem for possuindo com crescente perfeição os idiomas da Europa, vai gradualmente sofrendo uma desnacionalização. Não há já para ele o especial e exclusivo encanto da fala materna com as suas influências afectivas, que o envolvem, o isolam das outras raças; e o cosmopolitismo do Verbo irremediavelmente lhe dá o cosmopolitismo do carácter. Por isso o poliglota nunca é patriota.» [Eça de Queirós, in A Correspondência de Fradique Mendes, 2ª. ed. Porto, 1902. pág. 142] Eça de Queirós · 24 de outubro de 1997 · 8K
Antologia // Portugal Pobre vogal De todas as vogais portuguesas, a mais desgraçada é o e. Pouca gente, hoje em dia, a sabe pronunciar quando lhe vem à colação. Vejamos os casos em que deve valer i - sem que se ajude a cumprir esse dever. Um dos casos é aquele em que o pobre do e inicia palavra sem força bastante para merecer a designação de tónico. É o caso do e inicial átono... Toda a gente soube, até há pouco tempo, que o e in... João de Araújo Correia · 17 de outubro de 1997 · 3K
Antologia // Brasil Pudor Certas palavras nos dão a impressão de que voam, ao saírem da boca. "Sílfide", por exemplo. É dizer "Sílfide" e ficar vendo suas evoluções no ar, como as de uma borboleta. Não tem nada a ver com o que a palavra significa. "Sílfide", eu sei, é o feminino de "silfo", o espírito do ar, e quer mesmo dizer uma coisa diáfana, leve, borboleteante. Mas experimente dizer "silfo". Não voou, certo? Ao contrário da sua mulher, "silfo" não voa. Tem o alcance máximo de uma cuspida. "Silfo", zupt, plof. A p... Luís Fernando Veríssimo (1936 — 2025) · 3 de outubro de 1997 · 6K
Antologia // Portugal A Pêro de Andrade Caminha - Carta III Teu nome, Andrade, de qu´é bem qu´esperem O de que se já sempre espantaram Quantos te vem, quantos despois vierem: Teu raro espríto, de que se honraram5 As Musas, que de si tanto te deram, E que tarde outro como a ti darão: Os bons escritos teus, que mereceram Ou ouro, ou cedro, pois já nessa idade ... António Ferreira · 3 de outubro de 1997 · 6K
Antologia // Portugal Língua Mater Dolorosa Tu que foste do Lácio a flor do pinhodos trovadores a leda a bem-talhadade oito séculos a cal o pão e o vinhode Luís Vaz a chama joalhadatu o casulo o vaso o ventre o ninhoe que sôbolos rios penduradafoste a harpa lunar do peregrinotu que depois de ti não há mais nada,eis-te bobo da corja coribântica:a canalha apedreja-te a semânticae os teus verbos feridos vão de maca.Já na glote és cascalho és malho és míngua,de brisa barco e bronze foste a língua;língua serás ainda... mas de vaca. Natália Correia · 26 de setembro de 1997 · 6K
Antologia // Brasil O valor das palavras Forjam-se neologismos todos os dias, e o pior é que nem sempre se podem gabar de felizes as novas criações. Topa-se agora com frequência nos noticiários do jornalismo o desgracioso verbo solucionar. Escreve um localista numa folha séria, sisuda, circunspecta e grave: "No propósito de solucionar simultaneamente a questão em todos os seus prismas, parece conveniente que o Congresso autorize o Governo a confiar o estudo deste assunto a um jurisconsulto de reconh... Mário Barreto · 19 de setembro de 1997 · 8K