Antologia // Portugal Noções de Linguística A língua como definidora de identidade portuguesa neste poema de Jorge de Sena, transcrito na antologia Poesia-III, Moraes Editores, Lisboa. Jorge de Sena · 1 de agosto de 1997 · 4K
Antologia // Portugal Estão podres as palavras... Estão podres as palavras — de passarempor sórdidas mentiras de canalhasque as usam ao revés como o carácter deles.E podres de sonâmbulos os povosante a maldade à solta de que vivema paz quotidiana da injustiça.Usá-las puras — como serão puras,se caem no silêncio em que os mais purosnão sabem já onde a limpeza acabae a corrupção começa? Como serão purasse logo a infâmia as cobre de seu cuspo?Estão podres: e com elas apodrece o mundoe se ... Jorge de Sena · 1 de agosto de 1997 · 4K
Antologia // Portugal Vícios da Língua No Sermões e Lugares Selectos, o Padre António Vieira refere que quando o diabo caiu do céu, coube a Portugal a língua dele que ao menos assim nos entendem as nações estrangeiras, que de mais perto nos tratam. Padre António Vieira · 18 de julho de 1997 · 5K
Antologia // Portugal Sistema Impuro 1. Claro que o Português é uma língua maravilhosa. A prova é que se um ladrão me roubar eu encontro as palavras necessárias para lhe gritar atrás. Posso é não apanhar o ladrão nem recuperar a mala. Mas mesmo aí, fico com todas as palavras para me queixar, toda a sintaxe para expor, toda a morfologia para descrever a pessoa em causa e o facto ocorrido. E se ninguém me ligar, encontro todas as palavras para me revoltar e para dizer as frases que substituem a batida com a porta. Também para a ir... Lídia Jorge · 27 de junho de 1997 · 4K
Antologia // Portugal Da maneira para bem tornar (1) alguma leitura em nossa linguagem Primeiro: conhecer bem a sentença do que há-de tornar, e pô-la inteiramente, não mudando, acrescentado, nem minguando alguma coisa que está escrito. O segundo: que não ponha palavras platinadas, nem de outra linguagem, mas tudo seja em nossa linguagem escrito, mais achegadamente ao geral bom costume do nosso falar que se pode fazer. D. Duarte · 12 de junho de 1997 · 5K
Antologia // Portugal Menina e Moça * Ela não esqueceu nunca o tempo em que era uma camponesinha descarada que dançava debaixo de aveleiras em flor. Ri facilmente e, ao menor pretexto, tira os sapatos, prende as saias com a mão, parte outra vez ao encontro da sua natureza que aceita mal a convenção e os arrebiques. Tem o latim por pai, é certo, mas um pai com barba vagabunda, alheio à higiene e às declinações. Herdou das mouras uma certa languidez, essa demora no olhar que indica a predisposição para o descuido nos pormenores mai... Hélia Correia · 12 de junho de 1997 · 5K
Antologia // Portugal Outras línguas Muito antes, mas mesmo muito antes de eu falar, de eu ser, de eu existir sequer no pensamento de alguém, antes de esse alguém ser alguém, no tempo infinito, no tempo dos tempos de todos os limbos outros homens pensaram, outros homens falaram. Eu sei. Cristina Carvalho · 6 de junho de 1997 · 4K
Antologia // Portugal Obriga-se o cronista... Sobre os adjetivos substantivados ‹‹Prelado será sempre virtuoso; cantora será sempre mimosa; jornalista será sempre consciencioso; jovem escritor será sempre esperançoso; patriota será sempre exímio; negociante será sempre honrado; caluniador será sempre infame [quando usados como substantivos]›› – lembra Camilo Castelo Branco neste texto transcrito do seu livro Crónicas, Textos Polémicos e Artigos Escolhidos. Camilo Castelo Branco · 16 de maio de 1997 · 6K
Antologia // Portugal Língua Portuguesa Antigamente, não vinham apenas roupas, brinquedos, ferramentas e espantos nas grandes caixas de madeira que cruzavam os mares e os ventos, entre a América e as ilhas dos Açores. Vinham também os cheiros, os prodígios da riqueza imaginada, as inscrições a negro sobre a madeira aconchegada pela firmeza das cintas metálicas. E vinham palavras novas. Embrulhados com as roupas, chegavam dizeres, bilhetes com erros de ortografia, cartas movidas por estranhas palavras que em si mesmas misturavam dua... João de Melo · 9 de maio de 1997 · 4K
Antologia // Portugal O adjectivo O adjectivo? Que horror quando não é incisivoquando atira para o vagoo pobre substantivo(...) Alexandre O'Neill · 24 de abril de 1997 · 5K