O professor universitário Carlos Reis classificou hoje como «comportamentos autistas» os daqueles que se opõem ao Acordo Ortográfico, numa conferência internacional e audição parlamentar sobre o tema hoje realizada na Assembleia da República.
«Um acordo (…) é um encontro de vontades, fundado no reconhecimento da dignidade das partes, sem preconceitos, complexos ou reservas mentais, [que] implica disposição para o diálogo e para a abertura, não o fechamento em comportamentos autistas», defendeu o catedrático de Literatura Portuguesa.
Salientando que, «ao contrário do que tem sido dito, o Acordo Ortográfico é uma das questões mais debatidas dos últimos 20 anos», Carlos Reis frisou que «um acordo implica também o pragmatismo que leva a que se concorde no que é possível concordar, sem prejuízo de diferenças que não põem em causa o essencial da concordância».
«Se um acordo incide na ortografia – insistiu – então, reconheça-se que ele visa aquele domínio linguístico que é mais convencional e susceptível de reajustamentos rapidamente incorporados pelo uso e sobretudo pelas crianças, que são os falantes do futuro».
Segundo o professor, o que está em causa neste Acordo Ortográfico é «aproximar a grafia da articulação fonológica – aproximar, não identificar – ou, noutros termos, o modo como escrevemos do modo como falamos».
«Há alguma ofensa cultural, se passo a escrever ‘elétrico’ em vez de ‘eléctrico’? Houve desrespeito pelo idioma de Alexandre Herculano, pelos legisladores do Liberalismo ou pelos cidadãos letrados seus contemporâneos, quando passámos a escrever ‘fósforo’ ou ‘exausto’, em vez ‘phosphoro’ ou ‘exhausto’?», exemplificou.
E colocou, em seguida, algumas perguntas que caracterizou como «claramente retóricas», a primeira das quais foi: «Deve Portugal manter-se agarrado a uma concepção conservadora da ortografia, como se ela fosse o derradeiro baluarte da identidade portuguesa?».
«E podem alguns portugueses persistir em encarar o Brasil como um parceiro menor neste processo ou até como um inimigo?», lançou, acrescentando: “É curial ou inteligente ignorar o muito que o Brasil faz, por muitas vias, para a afirmação internacional da Língua Portuguesa?».
E – interrogou-se – «se no futuro, os países africanos de língua oficial portuguesa, incluindo o Brasil, se entenderem quanto à adopção de uma ortografia comum, em que posição fica Portugal?».
in agência de notícias portuguesa Lusa, de 7 de Abril de 2008