A deputada socialista Teresa Portugal declarou-se [na terça-feira, dia 7 de Abril] favorável a um Acordo Ortográfico que «tivesse em conta os pareceres de linguistas», numa audição parlamentar sobre a matéria, realizada na Assembleia da República.
«O Acordo Ortográfico tem uma longa e atribulada história, é um dos capítulos mais atormentados da história linguística portuguesa (…) Gostava de que a solução encontrada tivesse em conta os pareceres de linguistas, como Ivo de Castro», afirmou Teresa Portugal, também vice-presidente da Comissão de Ética, Sociedade e Cultura.
«Refazer para melhorar a versão conseguida poderia ter sido o caminho - e poderia ser ainda o caminho», defendeu.
A ratificação por Portugal do Acordo Ortográfico, cujo texto data de 1990, está iminente, depois de uma proposta de resolução do Governo nesse sentido ter já dado entrada na Assembleia da República (AR) e ter baixado a duas comissões: a dos Negócios Estrangeiros e de Ética, Sociedade e Cultura.
De acordo com a deputada socialista, esta proposta de resolução «tem o mérito de salvaguardar uma transição sem rupturas».
Sublinhando «o valor histórico incomensurável» da língua portuguesa - e não só passado, também futuro - a representante do PSD na comissão parlamentar, Ana Zita Gomes, recordou, por sua vez, que a última vez que a AR discutiu esta matéria foi em 1999.
«A AR está a fazer hoje - e bem - o que o Governo não fez: ouvir os especialistas», comentou.
O deputado Pedro Mota Soares, representante do CDS-PP, lamentou também o facto de o processo de adopção do Acordo Ortográfico se «arrastar há quase cem anos» e salientou que este «é um instrumento, um meio, e não um fim em si».
Ou «como disse o professor Adriano Moreira” - citou - «a língua é nossa mas não é só nossa».
«O português, como língua universal, só se pode de facto internacionalizar se houver acordo entre todos os Estados em que é língua oficial», sustentou, acrescentando que o seu partido vai apresentar um projecto de resolução sobre a matéria.
Já João Oliveira, deputado do PCP, defendeu «a necessidade de tomar decisões, mesmo quando elas não são unânimes», referindo, no entanto, que «se coloca a questão de saber por que é que, depois de terem negociado e assinado o texto do acordo, nem todos os países o ratificaram».
Desde a última vez que o tema foi debatido na AR, «há uma crítica do PCP que se mantém», indicou o representante comunista.
«O Acordo Ortográfico não está enquadrado numa verdadeira política da língua que o Estado português assuma», observou.
Essa é, na opinião, do deputado, «uma reflexão mais profunda que fica por fazer».
O representante bloquista na Comissão de Ética, Sociedade e Cultura, Luís Fazenda, declarou que «a posição do Bloco de Esquerda (BE) é de grande abertura a este Acordo Ortográfico, a uma aproximação ortográfica».
O deputado do BE exortou ainda à rápida adopção do texto, que não implica alterações profundas na forma escrita da língua portuguesa, apenas aquelas que estão relacionadas com «o ser da coisa e sua circunstância».
«Temos de andar rapidamente [na adopção do Acordo], sempre com a ideia de que não há decisões finais, com a ideia de que haverá outros acordos, com a ideia de que tudo é dinâmico», defendeu.
in agência de notícias portuguesa Lusa, de 7 de Abril de 2008