Antologia // Portugal Outras línguas Muito antes, mas mesmo muito antes de eu falar, de eu ser, de eu existir sequer no pensamento de alguém, antes de esse alguém ser alguém, no tempo infinito, no tempo dos tempos de todos os limbos outros homens pensaram, outros homens falaram. Eu sei. Cristina Carvalho · 6 de junho de 1997 · 4K
Pelourinho Acordes da Expo O sr. Presidente também não faria mal, no entanto, se deixasse de dizer /acórdos/ e passasse a dizer /acôrdos/. Não é por nada, mas - mesmo não sendo da Beira Baixa e não pronunciando as terminações masculinas em e - ainda corre o risco de nos levar a imaginar que nos está a dar música, ou seja, acordes. João Carreira Bom · 6 de junho de 1997 · 3K
Antologia // Cabo Verde A Nossa Língua Portuguesa* «Gosto desta língua que me permitiu ler no original as deliciosas prosas de Eça de Queirós ou Jorge Amado, entender e apreciar o "vem cá!" e nunca me impediu de sentir e afirmar a minha identidade de homem cabo-verdiano». [Texto escrito especialmente para o Ciberdúvidas, na sequência dos contributos do angolano Pepetela, do guineense Carlos Lopes, do moçambicano Mia Couto e do português José Saramago] Germano Almeida · 30 de maio de 1997 · 9K
Diversidades O linguajar luandense Embora o português seja já língua-mãe de muitos luandenses, a verdade é que uma língua não existe isolada do que a rodeia, seja a política, a cultura, a sociedade, a história, as classes sociais e os seus costumes. A língua portuguesa em Luanda sofreu algumas alterações interessantes, especialmente no discurso oral, em grande parte fruto do seu contacto com a língua local, o mbundu (ou kimbundu). Rui Ramos · 28 de maio de 1997 · 7K
O nosso idioma // A arte do uso da linguagem O cliché O emprego abusivo do cliché caracteriza quase todos os principiantes em trabalhos de estilo. Essas séries vocabulares ficaram-lhes no ouvido, através de más leituras, de carácter romântico, por vezes. Por preguiça mental enxertam esses grupos na redacção, que adquire um jeito pretensioso e falso, e diminui, é claro, de força expressiva. O estilo é uma permanente criação pessoal. Não aconselhamos o estudioso a evitar por completo as séries usuais, o que seria aliás difícil; mas prevenimo-lo co... Manuel Rodrigues Lapa · 23 de maio de 1997 · 7K
Pelourinho O verbo haver ao estilo rasca Geração rasca chamam-lhe. À dos estudantes que, nas universidades portugueses, baixaram ao nível mais pimba as bandeiras das suas reclamações. Mas se eles são de geração rasca, que dizer de quem, por sinal de uma geração anterior, falando deles e do autismo dessa sua luta contra a propina única, diz na rádio que "o PSD acha que 'devem' haver propinas"? Que dizer de quem diz assim o verbo haver, se ele se trata de um deputado, o deputado Carlos Coelho, que até foi secretário de Estado do Ensi... José Mário Costa · 21 de maio de 1997 · 2K
Pelourinho Tratamento discriminatório Faz parte das regras do jornalismo: as pessoas, todas as pessoas, têm tratamento idêntico. Idêntico no respeito individual de cada um, independentemente do seu estatuto, condição social, cultural, económica, política ou qualquer outra. Por isso, na imprensa, está há muito fora do uso a anteposição dos cargos ou dos títulos académicos, salvo em circunstâncias especiais - e nunca por razões de reverência. Mas o contrário também é regra. Ninguém deve ser tratado de forma depreciativa ou de algum ... José Mário Costa · 20 de maio de 1997 · 2K
Pelourinho Bilião reciclado 1 - Frederico Leal nunca disse, de facto, que era tradutor. "Mea culpa", extensível aos tradutores - que, até por razões de ofício, sabem que nesta questão da equivalência do bilião toda a prudência é devida. Precisamente porque lidam todos as dias com o divergente sentido das duas ordenações, mesmo em países como em Portugal onde o bilião é = 1 milhão de milhões, isto é, 10 elevado a 12. José Mário Costa · 16 de maio de 1997 · 3K
Antologia // Portugal Obriga-se o cronista... Sobre os adjetivos substantivados ‹‹Prelado será sempre virtuoso; cantora será sempre mimosa; jornalista será sempre consciencioso; jovem escritor será sempre esperançoso; patriota será sempre exímio; negociante será sempre honrado; caluniador será sempre infame [quando usados como substantivos]›› – lembra Camilo Castelo Branco neste texto transcrito do seu livro Crónicas, Textos Polémicos e Artigos Escolhidos. Camilo Castelo Branco · 16 de maio de 1997 · 6K
Pelourinho Erros de prestígio Há quem critique, e bem, a falta de cuidado no ensino da Língua Portuguesa. Diria mesmo ser assunto cómodo para conversas de circunstância - mas só até ao momento em que alguém comete a imprudência de apresentar exemplos. Aí, cuidado! O corrector pode acabar corrigido. Exemplos de efeito seguro são o «quêiramos», o «póssamos», o «supônhamos». Com eles, não há finaço doutor que não faça boa figura. São vícios ... João Carreira Bom · 16 de maio de 1997 · 3K