Português na 1.ª pessoa - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
 
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Já há pelo menos três anos que reparo que, nos postos de abastecimento da BP, surge, no pequeno visor do terminal portátil de pagamentos por multibanco, a seguinte mensagem, enquanto se espera pela conclusão da operação, depois de se marcar o código pessoal: «Seja bem-vindo "á" BP.» Ainda há dias, quando fui abastecer o meu veículo, reparei nesta incontornável frase. Ganhei coragem e resolvi ir mais longe — cronometrei o tempo de espera...

Os regressados autocarros de dois andares no Porto, 20 anos depois, levam o indicativo My Bus1. My Bus porquê?! Quem optou pelo nome em inglês – a empresa municipal de transportes colectivos da segunda cidade portuguesa – ter-se-á imaginado com a novel carreira noutro qualquer país que não Portugal?

1 Ver A origem da palavra bus

 

Gala SPA premia os melhores foi o título de uma notícia saída no jornal Metro, de 23 de Fevereiro de 2011, que dava conta dos prémios atribuídos pela Sociedade Portuguesa de Autores (SPA) a criadores portugueses em diversas áreas: cinema, literatura, música...

«Moderno é Lula discursar em português na Cimeira do Clima em Copenhaga. Moderno é Mourinho exibir orgulho ao receber em português o seu título mundial. Saloios, ultrapassados, são os “portugueses não-praticantes” que se inferiorizam e nos empurram para a irrelevância», escreve o deputado do CDS/PP em artigo publicado no jornal Público de 28/02/2011. 

Acerca da linguagem relativa ao trânsito automóvel em Portugal, o escritor Miguel Esteves Cardoso critica a falta de economia e a artificialidade do "pretensês", ou seja, da pretensão de falar bem.

Nas auto-estradas vem o aviso: «Com chuva/Modere velocidade.» Porque é que estes sinais não conseguem falar português? Português é a língua como se fala ou como se escreve, quando se quer ser entendido.

«Consumou-se a primeira etapa de um “lusocídio” — a  exclusão do português do regime europeu de patentes», escreve o deputado do CDS, e presidente da Comissão de Negócios Estrangeiros e Comunidades Portuguesas, em artigo publicado no diário Público [de 21/02/2011]. Sobre o mesmo tema, e o mesmo autor, vide O português pelo cano. Como chama o leitor a isto? e Requiem pela língua portuguesa.

O que fazemos com a linguagem?

Em artigo publicado no Diário de Notícias de 19/02/2011, Anselmo Borges, professor de Filosofia da Universidade de Coimbra, convida a reflectir sobre a relação da vertente pragmática da linguagem com a ética e a vida em sociedade.

Lá está Ludwig Wittgenstein: a linguagem não serve apenas para descrever a realidade, usamo-la também para pedir um favor, para agradecer, para amaldiçoar, para saudar, para rezar...

A versão online do Diário Económico (de 18/02/2011), na notícia Ministério do Trabalho em risco de extinção, apresenta a seguinte frase:

«O Bloco de Esquerda organiza uma pantomina em torno de uma pertença moção de censura ao Governo do PS […]»

Tenho reparado que começa a ser preocupantemente corriqueira, na língua portuguesa, a utilização de conjunções e locuções subordinativas concessivas — como embora, ainda que, mesmo que — com o modo verbal indicativo, e não com o conjuntivo, como o seu uso, na maior parte das vezes, exige.

Para provar o que acabo de referir, aqui transcrevo dois exemplos recentes da autoria de dois jornalistas bastante conhecidos e de quem tenho, aliás, a melhor opinião.

«Não pode haver uma “1.ª divisão de línguas” europeias sem o português, a terceira língua europeia global», escreve o deputado do CDS José Ribeiro e Castro, em artigo publicado no semanário Expresso de 19/02/2011, a propósito da imposição, apenas, do inglês, do francês e do alemão no regime europeu das patentes.