Na secção Cartas do semanário Expresso, de 28 de Maio de 2011, uma leitora, escrevendo sobre a crise que se vive Portugal, invoca o recente filme de Roland Joffé, Encontrarás Dragões, o qual, segundo ela, «vem mesmo a calhar nesta época», referindo, numa alusão ao desconhecido, que todos temos «dragões» a vencer. Ainda que a use apenas no singular, a leitora utiliza a mesma expressão duas vezes, e com o verbo em dois tempos verbais distintos: «vem mesmo a calhar» (terceira pessoa do singular do presente do indicativo) e «veio mesmo a calhar» (terceira pessoa do singular do pretérito perfeito do indicativo). Perante a identificação inequívoca do verbo, em dose dupla e diferenciada nos tempos, o Expresso resolve, e adequadamente, atento o teor da carta, chamar aquela expressão para título, porém, deste modo: «Os dragões que veem mesmo a calhar»… Ou seja, confundindo as terceiras pessoas do plural do presente do indicativo dos verbo vir e ver, ainda por cima já de acordo com a grafia introduzida pelo Acordo Ortográfico de 1990. Ora, não estando a nova grafia deste último tempo do verbo ver assim tão disseminada, e sendo o verbo vir, com aquela mesma expressão, referenciado por duas vezes no texto da leitora, não deixo de me perguntar se, ao longo do processo de produção do jornal, ninguém terá reparado no erro e o que justificará confusão tão óbvia.