Ao contrário do que pensam algumas conceituadas cabeças, falar e escrever bem a língua portuguesa não é exactamente uma mera preocupação de coca-bichinhos, de sujeitos caturras, portadores de uma dúzia de regras prontas a usar, sempre dispostos a embirrar com novas construções e com a natural evolução das formas. Acontece que a língua é património comum de largas dezenas de milhões de indivíduos, e convirá que atinja o melhor possível o seu fim último, que será o de todos nos entendermos sem esforço. Ou seja: embora a questão estética seja muito importante (o português, bem escrito e falado, é bonito de ver e ouvir), a função utilitária não é menor – a correcção facilita-nos a vida, ajudando-nos a perceber mais depressa e melhor.
Mas, por razões múltiplas, temos dado tratos de polé à língua. Ciente disso e cumprindo serviço público, tem vindo a RTP a exercer a misericordiosa obra de ensinar os ignorantes, fazendo perguntas e dando respostas sobre dúvidas de português. Ora, se das intenções não cabe duvidar, e se a ideia é excelente, já não se porão as mãos no fogo pelos resultados: por vezes, a forma exacta não será suficientemente assinalada, prestando-se a manter a confusão.
Por outro lado, um destes dias falou-se da pronúncia correcta de palavras como "vizinho" ou "ministro", deixando-se a ideia de que eram bem-falantes só os que dizem "vezinho" e "menistro".
Parece haver aqui um certo "desvio" regional: em diversas zonas do Norte pronunciam-se claramente os dois "ii" de cada palavra – e não haverá afectação nem asneira. Também cá por baixo se diz "dezóito", puxando pelo "o", e lá para cima fala-se em "dezôito", com o "o" fechado. E todos têm razão...