As queixas de falta de conhecimentos para leccionar os novos termos linguísticos têm pouca razão de ser, sobretudo quando os próprios docentes não escolhem essas matérias para acções de formação, diz Inês Duarte. "Levei a década de 1980 a fazer acções de formação de professores e bastava dizer a palavra "gramática" para ter reacções negativas de muitos formandos", recorda.
“Público” — Até que ponto não se começou a casa pelo telhado, ou seja, está-se a experimentar com os alunos antes mesmo de os professores terem tido formação?
Inês Duarte — Há duas maneiras de abordar essa questão. A primeira é a seguinte: se sou profissional, tenho de ser autónomo na minha aprendizagem. Não podemos esperar que a licenciatura chegue para toda a actividade profissional que vamos desenvolver durante 40 anos. A segunda é que o Ministério da Educação tem obrigação de formar os professores. Tenho tendência para dizer que um professor tem obrigação de ser capaz de responder aos desafios da autoformação.
“Público” — Mas as acções de formação contínua de professores têm sido suficientes?
Inês Duarte — Poderá dizer-se que não houve uma oferta suficiente de formação nesta área. Mas também é verdade que, em muitos casos, foram propostas acções de formação que não foram seleccionadas pelos próprios professores.
“Público” — Porque são avessos à gramática? Inês Duarte ? Provavelmente porque achavam que não era importante, o que, mais uma vez, mostra que não sentiam necessidade na sua prática pedagógica de se formarem nessa área. A TLEBS permitiu que tenha havido mais procura de acções de formação contínua na área da língua, nos dois últimos anos.
“Público” — E os professores estão motivados para estas mudanças?
Inês Duarte — A motivação articula-se com um outro aspecto, que é o próprio estatuto da carreira. O desempenho profissional não pode ser só uma questão de vontade individual e de gosto pela profissão, tem de haver benefícios externos para as pessoas mais empenhadas.
in "Público" de 24 de Dezembro de 2006.