Chegou tão leve, sem medo, sem pressa,
falando o som da terra e do mar,
mas a escola vestiu-lhe a promessa,
que há outra forma de falar.
Na sala, a voz fez-se pequena,
tentou falar, mas alguém o calou
«Fala direito, menino, aprenda,
Olhe o que o professor lhe ensinou»
o menino, pequeno, calou-se,
guardou as palavras no fundo do peito,
fechou-se em si, conformou-se,
dobrou a voz, mudou de jeito
Podem roubar, podem negar,
podem calar o que é de raiz,
mas a língua que nasce do chão e do mar
Também representa o que é o país
Roubaram-lhe a língua, roubaram-lhe a voz,
roubaram-lhe o nome que o mundo lhe deu.
E agora, sozinho, no meio de nós,
fala palavras que nunca escolheu.