«O PISA não se limita a avaliar como os estudantes são capazes de reproduzir o que aprenderam, considerando também o quanto conseguem extrapolar a partir do que aprenderam.»
Na semana passada, foi notícia a publicação dos resultados do PISA (Programme for International Student Assessment), no qual Portugal participa desde o ano 2000. A publicação destes resultados dá sempre lugar a muitas interpretações político-partidariamente motivadas, nem sempre sustentadas nos dados efetivos ou numa leitura global e objetiva dos mesmos: uns veem sempre o copo meio vazio e outros, meio cheio. Não entrarei, portanto, em comparações entre Portugal e os demais países e referirei alguns tópicos globais, dos disponíveis em: www.oecd.org/pisa. Em iave.pt/estudo-internacional/pisa encontra-se uma síntese dos resultados nacionais.
O PISA é um projeto da OCDE, aplicado trienalmente, que visa avaliar até que ponto estudantes de 15 anos (9.º de escolaridade; em muitos países, final da escolaridade obrigatória) adquiriram conhecimentos-chave e competências essenciais à sua participação plena na vida económica e social. O PISA não se limita a avaliar como os estudantes são capazes de reproduzir o que aprenderam, considerando também o quanto conseguem extrapolar a partir do que aprenderam e aplicar o conhecimento a situações não familiares. A última avaliação do PISA tivera lugar em 2018 (centrada na literacia de leitura); a de 2022 (centrada na literacia Matemática) foi adiada devido à pandemia de covid-19; a próxima edição centrar-se-á na literacia científica. Os dados do PISA permitem avaliar a evolução dos parâmetros em análise (e.g. proficiência, resiliência, equidade do sistema) em cada país e comparativamente; entende-se a atenção que merecem dos profissionais em educação e ensino.
Os resultados do PISA 2022, abrangendo 81 países, mostram que, em termos de proficiência, entre os países da OCDE se registou uma queda média de 15 pontos em Matemática e 10 pontos em Leitura; a literacia científica não registou variação significativa. Esta queda é imediatamente atribuível à pandemia de covid-19; no entanto, os resultados em Matemática e Leitura tinham atingido picos em 2012 e 2009, respetivamente, e vieram decrescendo desde então. No que respeita a equidade, verifica-se que, em média, 61% dos estudantes atingiram conhecimentos básicos nas três áreas analisadas. Em termos de justiça, os resultados mostram que cerca de 31% das diferenças no desempenho dos estudantes em Matemática se devem a diferenças nos sistemas de ensino; fica ainda claramente provado que os estudantes de estratos socioeconómicos e culturais mais elevados obtêm melhores resultados. No que respeita à imigração em países da OCDE, globalmente os estudantes não-imigrantes apresentam melhor desempenho, sendo a percentagem de estudantes com dificuldades de 37% entre imigrantes e de 22% entre não-imigrantes; 52% dos estudantes imigrantes usam em casa uma língua diferente da língua de ensino, número que desce para os 4% entre os não-imigrantes.
O PISA 2022 mostra que os sistemas de ensino mais resilientes, i.e. que preservaram ensino equitativo e bem-estar durante os anos da pandemia, partilharam alguns aspetos essenciais: períodos mais curtos de encerramento das escolas; menores obstáculos ao ensino remoto; manutenção da segurança nas escolas; recurso a mais disciplina; manutenção do envolvimento dos pais na aprendizagem; acompanhamento posterior dos alunos; redução da repetência; presença de pessoal habilitado e materiais de qualidade; encorajamento da tutoria entre pares; combinação da autonomia das escolas com mecanismos de manutenção da qualidade.
Artigo de opinião publicado em 11 de dezembro no Diário de Notícias.