Manifesto de Liubliana sobre a importância das competências superiores de leitura - Diversidades - Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
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Manifesto de Liubliana sobre a importância das competências superiores de leitura
Manifesto de Liubliana sobre a importância
das competências superiores de leitura
Sobre o declínio das competências de leitura

«(...) O mundo digital pode fomentar mais leitura do que alguma vez sucedeu na História, mas também oferece muitas tentações para se ler de uma forma superficial e dispersa – ou mesmo para não se ler de todo

 

1538946511390_livros.jpegA leitura de nível superior é a nossa ferramenta mais poderosa para desenvolver o pensamento crítico e analítico. Exercita a metacognição e a paciência cognitiva, expande as nossas capacidades conceptuais, treina a empatia cognitiva e a capacidade de criar perspectivacompetências sociais indispensáveis para sermos cidadãos informados numa sociedade democrática. Os signatários deste manifesto apelam ao reconhecimento da relevância permanente da leitura de nível superior na era digital.

Como inverter a tendência de declínio das competências de leitura é um dos desafios urgentes que a nossa sociedade enfrenta actualmente. Para participarmos como cidadãos informados numa sociedade democrática, precisamos de competências e práticas de leitura de nível superior que vão muito além da mera descodificação de textos. A leitura não só é a principal via para o desenvolvimento pessoal, os alicerces da aprendizagem ao longo da vida e a base de grande parte da nossa troca de informações, mas é também uma dimensão central da interacção e da participação social.

A era da rápida expansão das tecnologias ligadas a ecrãs pôs uma enorme quantidade de conteúdos áudio, vídeo e texto na ponta dos nossos dedos. A revolução digital tem trazido muitos resultados positivos.

Por exemplo, os conteúdos textuais tornaram-se mais acessíveis em zonas desfavorecidas e as necessidades dos leitores portadores de diferentes deficiências e capacidades podem ser mais bem supridas. No entanto, há que ter cuidado para que algumas competências e modos de leitura não pareçam uma relíquia de uma velha era da informação que está a desaparecer rapidamente.

Isto diz respeito, sobretudo, ao livro de formato longo e à leitura de nível superior que este promove. O mundo digital pode fomentar mais leitura do que alguma vez sucedeu na História, mas também oferece muitas tentações para se ler de uma forma superficial e dispersa — ou mesmo para não se ler de todo.

Este facto põe cada vez mais em perigo a leitura de nível superior. Por esse motivo, apelamos a uma reavaliação do papel da leitura de nível superior na era digital. Num ambiente de informação cada vez mais complexo, os cidadãos informados têm de ser capazes de distinguir as fontes válidas das inválidas e de ajustar de forma flexível as formas de leitura a contextos variáveis. O processo de leitura de nível superior é um exercício de atenção e paciência cognitiva, que expande o vocabulário e as capacidades conceptuais e desafia activamente os preconceitos dos leitores.

São sobretudo os textos longos, como os livros, que aperfeiçoam as nossas capacidades de leitura de alto nível. Treinam-nos a testar diferentes interpretações, a detectar contradições, preconceitos e erros lógicos, e a estabelecer as ligações sofisticadas e frágeis entre textos e contextos culturais de que necessitamos para a partilha de juízos de valor e emoções humanas.

A leitura de nível superior é a nossa ferramenta mais eficaz de raciocínio analítico e estratégico. Sem ela, estamos mal equipados para contrariar as simplificações populistas, as teorias da conspiração e a desinformação e, consequentemente, tornamo-nos vulneráveis à manipulação. No entanto, os profissionais de educação centram-se cada vez mais nos meios de comunicação multimodais, em detrimento de um envolvimento profundo com a informação textual. Mais ainda, devido a uma propensão para a eficiência, a complexidade da leitura é vista como um problema a resolver através da simplificação e não como um espelho da complexidade humana e uma actividade que fomenta o pensamento analítico e estratégico. Por último, o ensino da leitura e a avaliação actuais também se centram nas competências funcionais e informativas básicas.

Esta ênfase perde de vista a importância da leitura de nível superior ao longo da vida para o pensamento crítico, que é uma condição prévia para o bom funcionamento da democracia.

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Por conseguinte, apelamos a que a educação e a promoção da leitura, juntamente com a avaliação e a investigação, reconheçam a importância da leitura de nível superior como uma capacidade que molda a vida e a sociedade. A educação para a leitura e a promoção da leitura devem ir além do ensino de competências funcionais e informativas básicas às crianças em idade escolar e centrar-se no processo de desenvolvimento pessoal ao longo da vida, reforçado pela leitura de nível superior.

A avaliação da leitura deve ir além dos testes estandardizados e incluir dados qualitativos e descritivos, a fim de fornecer um diagnóstico pormenorizado do estado da leitura de nível superior nas nossas sociedades. A investigação sobre a leitura tem de alargar o seu enfoque, de modo a incluir disciplinas como a investigação sobre o comportamento da informação, o ensino da literacia da informação, design dos meios de comunicação, a investigação sobre a atenção e a neurociência, e a moldar um programa sistémico de investigação, alinhando perspectivas e ultrapassando a fragmentação.

O futuro da leitura afecta o futuro das nossas sociedades. Uma sociedade democrática, baseada num consenso informado entre os vários intervenientes, só pode ser bem-sucedida com leitores resilientes, bem versados na leitura de nível superior. Os decisores políticos em todos os domínios têm de estar conscientes deste facto. Porque, nas palavras do muito citado aviso de Margaret Atwood, «se não houver jovens leitores e escritores, em breve não haverá velhos leitores e escritores. A literacia estará morta, e a democracia... também«.

Para mais informações, consultar https://firstmonday.org/ojs/index.php/fm/article/view/12770

Associação Internacional de Editores

Academia Alemã de Língua e Literatura

Federação dos Editores Europeus

EU-READ, Consórcio de organizações europeias de promoção da leitura

PEN Internacional

Federação Internacional das Associações de Bibliotecários

Conselho Internacional dos Livros para Jovens​

 

Cf.  Que tem o Google Docs que ver com a literatura? + Ler pode ser uma (nova) moda. E os jovens portugueses têm uma palavra a dizer sobre isso

Fonte

Manifesto publicado em 11 de outubro em jornais europeus e transcrito, com a devida vénia do jornal Público na referida data