Herdámos do latim a palavra civitas, que significava «cidade» e também «[o]conjunto de direitos atribuídos ao cidadão», o conceito base de cidadania. Originalmente, tinha estatuto de cidadão aquele que tivesse nascido em terras gregas e, nessa qualidade, tinha o direito de participar ativamente dos negócios e das decisões políticas da cidade. A partir de civitas formaram-se palavras como civil, civilização e civismo. Todos estes termos guardam na sua significação o conjunto de direitos que permite participar da vida e do governo do povo.
Por esta razão, o exercício do voto corresponde a um direito, sendo a expressão de uma escolha livre do votante, que, deste modo, participa das decisões relacionadas com a sua terra, com o seu povo. Mas, votar é igualmente um dever, uma obrigação moral ou ética. Logo, votar é algo que se deve cumprir, a que não se pode faltar.
Não obstante, há quem considere que tem o direito de não cumprir o dever de votar, abdicando, desde modo, do direito a manifestar a sua opinião e não cumprindo o seu dever.
Independentemente das razões que possam estar na base da decisão de não votar, o facto que esta atitude expressa é claro: o cidadão decide não participar das decisões do governo do seu povo. Mas, e se todos os cidadãos assumirem esta atitude? Não estarão as decisões a cair nas mãos de poucos? Não estarão os cidadãos a colocar em perigo o seu povo e a sua cidade?
Afinal, votar é mais do que nunca um ato de cidadania, mas também de civismo e de civilização. E não esqueçamos que a verdadeira democracia terá dificuldade em sobreviver sem o exercício pleno dos direitos e deveres que implica!
Áudio disponível aqui:
[AUDIO: Carla Marques - Dever e direito]
Apontamento da autora no programa Páginas de Português, emitido na Antena 2, no dia 31 de janeiro de 2021.