Para a maior parte das pessoas, não é comum pensar no valor que as línguas podem ter como ativo econômico, mas esse é um tema que tem chamado a atenção de pesquisadores e especialistas, de diferentes áreas, sobretudo da política e da economia.
A Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável, adotada por 193 Estados-membros da Organização das Nações Unidas (ONU), em 2015, é um «plano de ação para as pessoas, o planeta e a prosperidade, que busca fortalecer a paz universal». Entre os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e as 169 metas para erradicar a pobreza e promover vida digna para todos, não há referências diretas sobre o papel das línguas nesse compromisso, assumido por muitas nações em escala global. No entanto, observando alguns desses objetivos, podemos nos perguntar: como é possível pensarmos na erradicação da pobreza, na saúde e bem-estar, na educação de qualidade, no trabalho decente e no crescimento econômico, na indústria, inovação e infraestrutura, na redução das desigualdades, sem incluirmos as línguas como recursos fundamentais para se alcançar essas metas? Como almejar uma educação de qualidade sem o adequado ensino das línguas, de modo inclusivo e democrático?
Essa compreensão tem feito governos e instituições, em todo o mundo, voltarem-se para o valor econômico das línguas e seu impacto no desenvolvimento das sociedades e de seus produtos. O Prof. Luís Reto, organizador das obras Novo Atlas da Língua Portuguesa e O essencial sobre a língua portuguesa como ativo global, afirmou neste Programa que: «Há uma relação muito estreita entre economia e língua. [...] As duas têm uma relação de causa e efeito. Quanto mais a língua é falada, mais gera negócio, e quanto mais a economia dos países se desenvolve, mais projeta a língua».
O português chega ao século XXI entre as dez línguas mais faladas no mundo e a quinta em número de utilizadores na Internet, e é uma das que mais crescem em número de falantes como língua estrangeira/segunda língua. Isso se deve, em grande parte, ao potencial de crescimento econômico dos países de língua oficial portuguesa, mas isso não é suficiente. É preciso que os nossos governos estejam atentos para o valor inestimável de nossa língua comum, responsabilizando-se pelo desenvolvimento de políticas linguísticas multilaterais que ajudem a projetá-la, de fato, como língua de comunicação global.
[Áudio disponível aqui]
Crónica que a autora escreveu e leu para o programa Páginas de Português, na Antena 2, do dia 20 de outubro de 2020.