Escreve João Costa, e a propósito do [primeiro] artigo de Helena Matos: «Contudo, como a referência ao regulamento de concursos televisivos mostra, Helena Matos confunde, de novo, programas, manuais e textos de opinião». Não sei se Helena Matos folheou atentamente os novos programas e os manuais, mas eu fi-lo, e é com conhecimento de causa que continuarei a afirmar que os manuais decorrem de uma aceitação do espírito dos novos programas («o respeito pelo discurso que os alunos trazem de casa») e da subestimação da Literatura, agora encarada como um mero tipo de texto utilitário. Tenho na minha posse um manual do 10º ano, cujos autores foram dois professores, membros integrantes da equipa do ME que elaborou os novos programas, e nele podemos encontrar tarefas assaz bizarras, mas muito «inovadoras», aliás como a TLEBS. Um poema de Sophia de Mello Breyner («Camões e a tença») que os alunos deverão transformar num requerimento, como se fossem Luís de Camões; o «requerimento em 30 linhas» de Fernando Pessoa, datado de ABEL, 18-9-1929, a partir do qual os alunos são convidados a «elaborar um atestado, uma declaração ou um certificado comprovando os factos indicados pelo poeta».
Escreve ainda João Costa, no ponto 4., que o «citadíssimo advérbio disjunto restritivo do valor de verdade da asserção não ocorre na TLEBS». De onde teria surgido então esta classificação? Eu, por mim, encontrei-a, juntamente com outras do mesmo teor, num manual do 7.º ano de 2006-2007, que explicita na capa estar de acordo com a nova terminologia. Por outro lado, colegas que fizeram formação em TLEBS referiram-me igualmente estas subclasses dos advérbios disjuntos.
João Costa afirma também que, desde há 30 anos, «a gramática tem sido deixada de parte». Mas então para reabilitar novamente o seu ensino foi necessário uma nova terminologia linguística, que mais não faz que confundir e desatinar professores e alunos? É que a gramática não pode transformar-se num obstáculo, como acontece neste momento. A gramática é uma ferramenta preciosa que os alunos precisam de compreender e dominar, para interiormente esclarecerem a Língua que utilizam, quando comunicam ou expressam a sua alma.
in "Publico" do dia 23 de Novembro de 2006.