« (...) Aqui se repete uma sugestão para quem anda pelo território nacional «a correr riscos»: se tem fé, reze; se não tem, reze também.»
Além de «traço feito com material de escrita sobre uma superfície», o substantivo risco quer dizer «probabilidade ou ameaça de perigo». O dicionário dá um exemplo: «Com o temporal, o risco de naufrágio é elevado.» A derrocada em Borba* e a morte de uma família em Sabrosa vieram lembrar como é «um risco» viver em Portugal, ainda que os turistas falem em «destino seguro». Os portugueses, no entanto, apercebem-se de que os perigos já não «espreitam» a cada esquina, “escancaram-se” por todo o lado. Sobretudo quanto mais longe se estiver do mar, das WebSummit, das galas Michelin, das exposições de Mapplethorpe ou dos concertos da Casa da Música.
Essas geografias — litoral, Lisboa e Porto — estão quase sempre a salvo. Pelo menos enquanto a terra não voltar a tremer com pujança. Estradas, pedreiras, caminhos-de-ferro, pontes, florestas, habitações construídas à toa são cenários em que os «riscos» se multiplicam. Já para não falar de o cidadão poder não sobreviver a meses de espera por uma cirurgia porque os enfermeiros (anestesistas, técnicos de diagnóstico ou administrativos) estão em greve.
Ser mulher também é um «risco», pensando em violência doméstica. Fora dos «riscos» de vida, há os que perturbam o dia-a-dia de quem escolheu Portugal para viver. Uma audiência no tribunal pode ser adiada porque os juízes paralisaram (não importa se as testemunhas vieram do fora do país ou se tal obriga arguidos a ficarem detidos). Não é garantido que as crianças tenham aulas todos os dias. Há sempre reivindicações no sector da Educação, com os professores a liderar a frequência e os motivos.
Tudo legítimo: protestos, incómodos e receios. Mas só quando não se «pisa o risco», ou seja, não se «ultrapassa os limites do aceitável». Aqui se repete uma sugestão para quem anda pelo território nacional «a correr riscos»: se tem fé, reze; se não tem, reze também.
* As primeiras informações vindas de Borba davam conta de cinco pessoas «submersas», uma expressão que causou alguma estranheza. Soube-se o porquê logo a seguir: o troço de estrada que ruiu situava-se entre duas pedreiras, parcialmente inundadas. Uma autêntica ponte que se mantinha sobre dois abismos, com pelo menos 50 metros de altura e mais 30 metros debaixo de água. Nos primeiros dois dias de buscas, as autoridades conseguiram retirar um corpo da água e localizar outro. Faltam três.
A trepidação dos veículos que passavam por ali naquele final de tarde e a chuva — que caiu durante quase todo o dia –— terão ditado este trágico acidente. A argila tornou-se líquida e a estrada centenária desabou. Não sem avisos: há pelo menos quatro anos que os empresários da zona pediam que se fechasse a estrada por falta de segurança. As buscas continuam, com cuidados redobrados porque não se afasta a hipótese de uma segunda derrocada. As autoridades fazem o que podem, mas as previsões apontam para uma chuva teimosa que irá dificultar ainda mais a retirada dos corpos.
As responsabilidades estão por apurar.
Cf. Mármore