Entendo que o texto a seguir, que tirei de site da minha maior confiança**, se refere [ao Ciberdúvidas da Língua Portuguesa]. E preciso de admitir que concordo com eles: sempre revirei os olhos e ri sozinho da insistência do Ciberdúvidas de dizer que quarta só pode ser abreviado como 4.ª, e não como 4ª, inventando uma regra que não existe em nenhuma gramática e que não é seguida, pois regra não é, pelos dicionaristas, académicos, gramáticos. Agora que vi que o próprio texto do Acordo Ortográfico dAcordo Ortográfico da Língua Portuguesa.
Sim, porque não apenas nossos melhores gramáticos e a própria Academia Brasileira de Letras estampam "3ª edição", "4ª edição", "5ª edição", sem pontos, em suas capas – o próprio Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, instrumento oficial e legal regulador da ortografia da língua, assinado pelos representantes dos governos de todos os países lusófonos, foi inteiramente redigido com ordinais sem pontos – como se pode ver aqui, na versão original, assinada em 1990; aqui, na versão atualmente divulgada pela própria CPLP; ou aqui, no protocolo modificativo também assinado por todos os países lusófonos.
Em suma, o próprio Acordo Ortográfico em vigor não usa pontos nos cardinais.
De modo que dizer que escrever "quarta" como "4ª" é um erro de português não é sequer "ser mais realista que o rei". É erro, mesmo.
* O subscritor deste texto enviado ao Ciberdúvidas, contesta o que aqui se tem recomendado quanto à obrigatoriedade do ponto nas abreviaturas, nelas incluídas nas dos numerais cardinais. Cf. Textos Relacionados, ao lado + O ponto é ou não obrigatório para marcar uma abreviação?, + O ponto nas reduções dos ordinais, na tradição do português europeu + Porquê o ponto nas abreviaturas – e já não nas siglas.]** o autor fez-nos chegar a informação onde retirara esta argumentação, sem antes ter atribuído a devida autoria. Duplamente lamentável: pelo logro que nos induziu e porque, por princípio, o Ciberdúvidas não se envolve em querelas com outros espaços sobre a língua portuguesa.
N. E. (5/09/2016) – Não é verdade que «o próprio Acordo Ortográfico em vigor não [use] pontos nos cardinais». No texto que foi publicado em Portugal, em 1991, no Diário da República (cf. anexo à Resolução da Assembleia da República n.º 26/91), exibe-se sempre o ponto abreviativo na representação dos ordinais, conforme se pode confirmar pela imagem que aqui se junta.
Observe-se que as normas ortográficas do português não se pronunciam acerca da utilização do ponto abreviativo nem de outros sinais de pontuação ou de auxílio à escrita. O Formulário Ortográfico de 1943 (em vigor no Brasil até 2009) e o chamado Acordo Ortográfico de 1945 (em vigor em Portugal até 2015) praticamente não definem as condições do uso do ponto de abreviação, apenas o referindo a propósito do caso em que coincide com o ponto que marca o fim de um período. O Acordo Ortográfico de 1990 (AO) também não apresenta nenhuma disposição sobre este ou outros sinais auxiliares da escrita. Mas nada disto contraria o facto de a publicação do AO em 1991, no Diário da República (DR) português, apresentar pontos abreviativos na representação dos ordinais, numa prática há muito consagrada. Em suma, pelo menos, em Portugal, é necessário consultar o DR e não tirar conclusões apenas com base nas muitas versões do AO que se encontram na Internet e que não apresentam o sinal em causa.
[Sobre esta controvérsia, O ponto é ou não obrigatório para marcar uma abreviação?, ver ainda; O ponto nas reduções dos ordinais, na tradição do português europeu + Porquê o ponto nas abreviaturas – e já não nas siglas.]