Apontamento que o escritor, ensaísta e linguista português Fernando Venâncio publicou na sua página do Facebook, em 14/12/2014, sobre o uso incorreto de aparentemente à francesa ou à inglesa, ou seja, como decalque semântico dos advérbios modalizadores apparemment e apparently.
Marcelo Rebelo de Sousa [no seu comentário político, na TVI] conseguiu não chegar aos 20 empregos de «aparentemente», mas andou lá perto.
Sim: está instalada a desordem semântica. Nos bons velhos tempos, o advérbio em causa significava «à primeira vista», «na aparência». Assim, dizíamos: «Ele aparentemente é pobre», sugerindo que tem lá escondido um belo pé-de-meia.
Só que o francês apparemment e o inglês apparently significam outra coisa: aquilo que nós traduzimos por «pelos vistos», «segundo tudo indica», «tudo leva a crer que», e semelhantes. E é este exótico valor que o Sr., mais um ror de portugueses, passaram a dar a «aparentemente».
Estimado Dr. Marcelo Rebelo de Sousa: eu ouço embevecido, bastantes vezes com surpresa, e até com anuência (vem aí traulitada dos meus amigos), as suas bem trabalhadas análises. O Sr. bate em fluência a muito bem-falante da nossa praça, e tudo por mérito próprio, Mas poderia, neste ponto, cuidar melhor da expressão, garantindo, quanto lhe for possível, e quanto for desejável, alguma segurança na nossa semântica?
De antemão grato,
Fernando Venâncio
Texto publicado em 14/12/2014 pelo autor na página que mantém no Facebook.