A utilização das tecnologias da informação no ensino de línguas está a crescer a um ritmo constante nos últimos 10 ou 15 anos. Há cada vez mais aplicações de inserção de dados via Internet, exercícios interativos gerados automaticamente, gráficos dos resultados atingidos pelos alunos e aconselhamento automático (gerado pelo programa de computador) sobre quais os itens que o aprendente deve reforçar, a que se pode acrescentar, ou não, a aprendizagem colaborativa, na comunidade virtual.
Mas, apesar disso, o termo «ensino online» ou «formação online» – «ensino a distância» ou «formação a distância», como ficou consagrado em português – nunca foi tão vago. Há a ideia generalizada de que as novas tecnologias são apenas uma maneira mais atrativa de apresentar aquilo que, afinal, pode ser apresentado num manual em papel, a que se anexe um CD; ou que as tecnologias visam apenas facultar materiais que potenciam uma aprendizagem mais rápida, mais cómoda e mais apelativa.
A aprendizagem via Internet é muito mais do que isso: a chamada Aprendizagem Assistida por Computador – CALL – Computer Assisted Language Learning ou na Tecnology-Enhanced Learning corresponde ao conjunto variado de sistemas adaptativos e intuitivos de aprendizagem, que integram os chamados “jogos sérios” ou exercícios interativos.
E o que acontece é que este arsenal de programação afeiçoa-se aos mecanismos cognitivos que atuam na aprendizagem de uma segunda língua.
A aprendizagem começa quando há reconhecimento de formas padronizadas a partir de dados orais e escritos e quando há a associação dessas formas a sentidos. E sabemos que a aquisição de representações linguísticas numa segunda língua é afetada pela:
a) frequência em que o aluno vê uma palavra ou uma construção;
b) variedade dos contextos de exposição em que esse mesmo item reaparece;
c) treino repetido e espaçado sobre esse dado item, através da realização de tarefas, de resolução de problemas.
Esta necessidade conceptual de resolver um problema exige então do aprendente despender tempo a refletir e a esforçar-se por se lembrar de um item, o que implica uma elaboração cognitiva que resulta na recuperação consistente de uma palavra, de uma regra, de uma estrutura ou fraseologia, etc.
O modelo da Ciberescola
Posto isto, resta perguntar: qual o papel do professor?
Muito resumidamente, veja-se o exemplo da Ciberescola, que, através de protocolos com cinco agrupamentos de escolas, proporciona aulas, com um professor “humano”, por videoconferência a alunos estrangeiros a frequentar o ensino básico, e com recurso a uma base de dados de materiais interativos. O aluno faz os exercícios autonomamente, que estão preparados para poderem ser feitos autonomamente, e o professor está a jusante, ou seja, a ajudar a resolver problemas concretos que os alunos encontram e, claro, a estimular a conversação oral em português.
A Ciberescola conjuga então os modelos de aprendizagem assistida por computador com a aprendizagem assistida por um professor. O papel do professor não é, de modo nenhum, prescindível (nem perecível). O professor tem a seu cargo:
a) a condução de uma conversação;
b) a correção de textos originais dos alunos;
c) o esclarecimento individualizado no momento em que o aluno tem de resolver um problema ou remediar um erro que faz;
d) a explicitação de estratégias metacognitivas que já estão latentes nos exercícios interativos: como a combinação e comparação seletiva de informação.
Deste modo, o conhecimento declarativo é dado pelo computador, e o professor deixa de ser um “debitador” de regras e de exemplos – porque isso pode ser feito pelo computador – e passa a ser um auxiliador especializado na resolução de problemas e um parceiro na conversação regulada. Então, o que temos é não só uma aprendizagem ativa como também um ensino ativo; não é só um aluno ativo, como também um professor ativo.
Ler também artigos nas seguintes subsecções:
Programa de Aprendizagem Colaborativa - 2013/2014
Cf. Linguagem abreviada dos telemóveis chega à escola