O caso Maddie e, por arrasto, o caso Joana continuam a despertar o interesse da comunicação social portuguesa. Desta vez, foi através do programa Sinais de Fogo, da SIC, onde o entrevistador afirmou, referindo-se à mãe de Joana, que «a mulher [fora] batida». O entrevistado, apesar de ter menos responsabilidade que o entrevistador no que respeita à língua portuguesa, refutou a ideia, mas não lhe pegou nas palavras, limitando-se a dizer que «a mulher não [fora] agredida».
Confesso que o uso desta expressão («ser batida») não deixou de me surpreender, porque nem sequer é habitual ouvi-la. O erro é o mesmo que acontece noutra expressão — na qual passamos o tempo a tropeçar, nessa sim —, quando se diz que «a criança foi abusada».
Dizemos bater em alguém e abusar de alguém. Por se usarem com preposição (em, de), estes verbos não admitem a forma passiva, que acontece só com verbos transitivos directos, ou seja, verbos que pedem complemento directo (o complemento directo liga-se ao verbo sem preposição, por isso se chama directo).
É por isso que podemos usar na passiva os verbos espancar, agredir, maltratar… alguém, mas não bater (em), abusar (de)… alguém. A mulher foi agredida, espancada, maltratada… A criança foi vítima de abuso, maltratada, etc.