Volume, atualizado com as novas regras, terá quase 350 mil palavras; Brasil vai propor uma reunião dos oito países signatários do acordo, um trabalho de Alexandre Gonçalves para o Estadão.
A quinta edição do Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (VOLP), já atualizado com as novas regras do acordo ortográfico, será lançada no próximo dia 19. O volume trará 349 737 palavras com suas respectivas classificações gramaticais, mas sem as definições típicas de dicionários.
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O presidente da Academia Brasileira de Letras (ABL), Cícero Sandroni, pretende entregar os primeiros exemplares para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e alguns ministros.
Evanildo Bechara, coordenador da Comissão de Lexicografia e Lexicologia da ABL e principal responsável pelo VOLP, explica que foram adotadas 15 medidas para dirimir dúvidas ou ambiguidades no texto do acordo. Ele diz que os critérios adotados pela comissão foram: respeitar a letra do acordo, estabelecer uma linha de coerência quando surgiam princípios aparentemente contraditórios, acompanhar o espírito simplificador da reforma e, nos pontos não discutidos no texto, preservar a tradição ortográfica decorrente das reformas anteriores.
O acordo, por exemplo, afirma que palavras compostas, «em relação às quais se perdeu, em certa medida, a noção de composição, grafam-se aglutinadamente (sem hífen): girassol, madressilva, mandachuva, pontapé, paraquedas, paraquedista, etc.». Diante da dificuldade de especificar quais palavras perderam «em certa medida» a noção de composição, a comissão responsável pelo VOLP decidiu aplicar a norma apenas nas palavras citadas explicitamente pelo texto da reforma e naquelas «consagradas pela tradição ortográfica dos vocabulários oficiais», ou seja, presentes nos dicionários portugueses e brasileiros sem hífen.
Não há qualquer item do acordo que trate das formas onomatopeicas ou construídas com elementos repetidos, como blá-blá-blá ou reco-reco. A comissão optou pelo uso do hífen nestes casos.
Outro caso omisso no acordo foi a utilização de não e quase como prefixos — como não fumante ou quase irmão. Preferiu-se a forma sem hífen.
«O VOLP é a contribuição brasileira para a construção de um vocabulário ortográfico comum, previsto no acordo», afirma Godofredo de Oliveira Neto, presidente do Instituto Internacional da Língua Portuguesa, entidade responsável pela articulação da reforma.
Oliveira Neto afirma que o Brasil proporá uma reunião, a ser realizada em abril, dos oito países signatários do acordo. Do encontro, deve sair uma comissão para discutir o vocabulário ortográfico comum. Podem surgir pequenas divergências quanto à interpretação do acordo, que serão discutidas até obter um consenso. «Naturalmente, poderão exigir adaptações no VOLP», aponta Oliveira Neto.
Bechara considera difícil que Portugal rejeite os critérios adotados pelo vocabulário brasileiro. «Quando o texto do acordo de 1990 deixava lugar a dúvidas, usamos como fiel da balança a reforma de 1945 adotada por Portugal e rejeitada pelo Brasil», explica o filólogo. «Exceto quando a norma de 1945 contrariava claramente o espírito do acordo de 1990.»
A reação portuguesa será conhecida na primeira quinzena de abril, quando o VOLP chegará ao país.
in Estadão de 10 de Março de 2009