O artigo anterior foi dedicado à detecção de marcas linguísticas do discurso tablóide. Um desses sinais é o recurso a um nível de língua coloquial ou familiar. A linguagem activada no texto da notícia é a linguagem usada pelos falantes comuns, quando comentam este ou aquele caso de polícia, este ou aquele escândalo. A linguagem dos tablóides encerra o retrato da sua própria audiência.
Mas o facto de ser possível detectar com precisão marcas linguísticas caracterizadoras do discurso tablóide não quer dizer o jornalismo reconhecidamente "sério" esteja imune a um registo informal. Trata-se, afinal, de um estilo de redacção que capta audiências: dá uma imagem de irreverência e estabelece uma ponte entre os factos relatados e as experiências, atitudes e crenças dos leitores.
A edição on line do Expresso de 15 de Julho de 2008 dava conta do sucedido: Saldanha Sanches recusou fazer parte do júri de doutoramento de um membro do Governo, o secretário de Estado dos Assuntos Fiscais, porque os restantes membros do júri eram sócios do doutorando. O título da notícia é «Bronca na Faculdade de Direito de Lisboa».
O Jornal de Notícias de 13 de Agosto contava que os condutores com mais de 50 anos pediram a renovação da carta antes do tempo, sendo necessário, por isso, emitir duas vezes o mesmo documento. O título: «Novas regras dão caos na revalidação das cartas». O jornalista ia certamente dizer «dão bronca» e já só se corrigiu a meio da tirada.
Artigo publicado no semanário Sol de 30 de Agosto de 2008, na coluna Ver como Se Diz.