Quando somos crianças aprendemos a falar por imitação e interiorização de rotinas e padrões que instintivamente captamos na interacção com os adultos, em actividades sociais diversificadas. Antes de entrarmos para a escola já somos detentores de uma firme competência lexical e sintáctica.
Ao longo da escolarização, e depois na vida profissional, a par de uma aprendizagem consciente e regulada da língua, continuamos a activar, inconscientemente, este método da imitação — o que nos poupa tempo e disponibilidade mental. O cidadão comum não está constantemente a avaliar a rectidão dos termos, a coerência e articulação das palavras. Simplesmente, ouve, lê e reproduz. Pode é fazer uma avaliação prévia acerca da credibilidade das entidades que emitem discursos orais e escritos.
Confiará mais em textos editados por uma instituição pública do que nos publicados num blogue de um adolescente. Parte do princípio de que uma entidade governamental tem pessoal qualificado, conhecedor de técnicas de redacção correctas e apropriadas e que, à parte disso, dá os textos para rever. Acredita que o exemplo vem de cima.
É fácil, porém, encontrar erros tipificados (descritos em prontuários e manuais) em sites do Governo.
Em www.i-gov.org lemos: «Professores e conferencistas britânicos devem ter ao seu dispôr um guia completo de serviços de redes sociais». Correcção: dispor não tem acento. Regra: todos os derivados de pôr ( propor, dispor, transpor, compor, etc.) não têm acento.
Na página da Direcção Geral dos Recursos Humanos da Educação, do Ministério da Educação, (www.dgrhe.min-edu.pt) anuncia-se a abertura de um concurso de professores para Timor e "PALOP's". Correcção: diz-se «os PALOP». Regras: 1— as siglas não têm marca de plural; 2 — o apóstrofo, em português, serve para assinalar a supressão de uma vogal (o que não é o caso).
Na secção das notícias do portal do Governo (www.portugal.gov.pt/), num artigo sobre as minas de Aljustrel, lemos: "Ninguém investe tanto dinheiro numa actividade (…) senão tiver confiança no nosso país". Correcção: "se não" - duas palavras. Explicação: "se" (conjunção condicional) seguida de "não" (advérbio de negação).
Cuidado com as imitações, portanto.
Artigo publicado no semanário Sol de 9 de Agosto de 2008, na coluna Ver como Se Diz.