Decorreu, no início desta semana, o Encontro Comemorativo dos 20 anos do Instituto de Linguística Teórica e Computacional (ILTEC). Completamente ignorado pela imprensa, o evento teve a originalidade de contar com a participação conjunta de linguistas e não linguistas (jornalistas, escritores, tradutores, professores de português), no debate aceso sobre norma, variação e desvio, política de língua e escrita — atendendo à rápida e constante mudança dos mecanismos de comunicação. A estes temas juntou-se a reflexão sobre o papel do linguista fora da academia, no âmbito de trabalhos de carácter institucional (elaboração de dicionários técnicos e terminologias, livros de estilo, exames nacionais, etc.), assim como em equipas de consultoria (na tradução, revisão e edição) e em grupos multidisciplinares de tratamento de distúrbios da linguagem, a que se soma o trabalho de divulgação da própria investigação em linguística.
Estas são acções que ninguém atribuirá aos linguistas se eles as não reclamarem para si. Enquanto isso não acontecer, a linguística continuará a ser vista como o estudo de estruturas abstractas e sistemas algébricos que, à luz de discussões mal informadas em torno da TLEBS ou do Acordo Ortográfico, por exemplo, é transformado numa caricatura de linguagem cabalística.
O que este encontro veio mostrar é que já é tempo de desfazer ideias feitas, quer dentro quer fora dos núcleos de investigação sobre a língua.
P.S. O ILTEC é um centro de investigação que disponibiliza no seu portal, gratuitamente, diversas bases de dados pesquisáveis e que tem desenvolvido ao longo destes 20 anos um papel decisivo na investigação e formação em linguística. A existência e sobrevivência deste instituto devem-se ao empenho inestimável da Professora Maria Helena Mira Mateus.
Artigo publicado no semanário Sol de 5 de Julho de 2008, na coluna Ver como Se Diz