Manuel Alegre garante que não votará a favor do Acordo Ortográfico. O protocolo é debatido na Assembleia da República a 15 de Maio [de 2008], e Alegre assegura que não cumprirá a orientação do PS. «Posso votar contra, abster-me ou não votar, estou dividido. Admito tudo menos votar a favor, por aquilo que disse e escrevi, pelas dúvidas que tenho, e porque há um património que temos de preservar», diz ao Expresso. Alegre foi um feroz adversário do documento em 1991 e continua a defender que «não era preciso acordo nenhum». No entanto, concorda que existem razões «estratégicas» — o peso do Brasil —, que dão força ao tratado. «Uma vez que chegámos a este ponto, criou-se um imbróglio difícil de descalçar», reconhece o poeta. Mas nem por isso se conforma com o texto, até porque «tem muitos erros técnicos».
Essa é uma das razões por que o socialista Fagundes Duarte vai votar contra. «Invoco a minha competência na matéria para votar contra; não posso votar a favor de um tratado cujos pressupostos estão cientificamente errados», diz o deputado, que é professor de História da Língua. Além de «não ter sustentação científica», considera que o acordo é inútil e atenta «contra o património cultural». Isabel Pires de Lima, que já considerou o acordo «fora de tempo», disse ao Expresso que vai votar a favor, não por concordar, mas porque «há um compromisso político-diplomático que o Governo deve cumprir». Será um «sim, mas», pois a ex-ministra da Cultura vai apresentar uma declaração de voto em que elenca razões técnico-linguísticas, político-diplomáticas e culturais para discordar do documento.
No PSD, é Zita Seabra quem está contra a orientação da bancada. A deputada, que também é editora, disse ao Expresso que não vai votar, por causa desse conflito de interesses. «Se votasse, seria contra», sublinha. Considera que, «do ponto de vista legal, o acordo é abusivo, e, pior, não terá as consequências que se anunciam. Estas coisas não se fazem por decreto.»
notícia do semanário Expresso de 25 de Abril de 2008