As siglas têm a grande vantagem de poupar espaço (na folha de papel ou no tempo da elocução). A junção das iniciais de cada palavra de uma expressão abrevia e compacta formulações mais ou menos extensas.
Parece, pois, ser um processo de formação simples e cómodo, mas não é.
Há umas siglas que se parecem mais com palavras do que outras: PGR (Procuradoria-Geral da República) pronuncia-se letra a letra, mas APAV (Associação Portuguesa de Apoio à Vítima) pronuncia-se como uma palavra normal, por sílabas (neste caso, diz-se que temos um acrónimo).
Em português, tanto temos siglas que correspondem à formulação da língua original — NATO (North Atlantic Treaty Organisation) [forma que se impôs nos últimos anos ao uso tradicional da sigla em português, OTAN] —, como siglas criadas sobre a tradução de uma denominação — ONU (Organização das Nações Unidas).
A questão do género da sigla também é interessante: toda a gente diz «fazer um TAC», ou seja, uma Tomografia Axial Computorizada. Tal deve-se ao facto de já não se saber (ou de nunca se ter sabido) a forma analítica correspondente, como muito provavelmente acontece com GPS (Global Positioning System), SMS (Short Message Service), ETA (Euskadi Ta Askatasuna). Ao menos o plural não tem que saber, pois nunca é marcado — diz-se «os CD» e «as ONG».
Depois, há siglas um tanto risíveis, que coincidem com formas de nomes próprios, hipocorísticos ou marcas: ZEE (Zona Económica Exclusiva), ANA (Aeroportos e Navegação Aérea) — e futuramente: SISI (Sistema Integrado de Segurança Interna), SIVIC (Sistema Integrado de Vigilância Costeira).
Outras siglas há que não têm razão de ser: espera-se que IVG referencie uma organização, uma instituição, um serviço, uma entidade, mas é a sigla para Interrupção Voluntária da Gravidez…
E há as siglas revitalizadas e as que referem coisas que ainda nem existem. É o caso das siglas emanadas da recente CTAPRU (Comissão Técnica de Apoio ao Processo de Requalificação das Urgências): fecham os SAP, para ficarem só os SASU — isto enquanto não chegam os SUB.
*Artigo publicado no semanário "Sol" de 7 de Abril de 2007