Confrontamo-nos diariamente com dúvidas sobre a escrita de palavras, especialmente os profissionais da comunicação social. No caso português, a verdade é que, ao alcance de todos, surgiram nos últimos anos diversos instrumentos de consulta, quer em papel, quer em formato eletrónico e em linha, geralmente motivados pela aplicação do novo Acordo Ortográfico*. A «total insegurança ortográfica» e «os erros de português frequentes em jornais e televisões» que muitos lhe atribuem diretamente – vide o que nesse ponto se refere na moção aprovada pelo fórum-colóquio Pela Língua Portuguesa, diga NÃO ao ‘Acordo Ortográfico’ de 1990!, realizado na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa em 14 de abril p. p. (aqui noticiado)** – têm, pois, que ver, muito mais, com um generalizado descuido no bom uso do idioma nacional nos meios de comunicação portugueses. Basta ler e ouvir os recorrentes protestos de leitores e telespectadores nas colunas e nos espaços dos respetivos provedores. A começar nos reparos persistentes de quem vem ocupando o cargo no jornal mais ativamente discordante da adoção do Acordo Ortográfico em Portugal – onde, por isso mesmo, nem sequer se pode alegar, como noutros jornais, que esses erros decorram da má aplicação das novas regras ortográficas.
* Alguns desses recursos de consulta rápida e cómoda (além do Ciberdúvidas, naturalmente):
– o Vocabulário Comum da Língua Portuguesa, do Instituto Internacional da Língua Portuguesa, o qual abrange os vocábulos usados em Portugal e noutros países de língua portuguesa, bem como integra os diversos vocabulários nacionais já disponíveis;
– o Vocabulário Ortográfico do Português, alojado no Portal da Língua Portuguesa;
– para o público brasileiro, o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, da Academia Brasileira de Letras.
** Ler o texto "Adversários do Acordo Ortográfico reclamam referendo", saído neste dia no jornal Público (disponível também na rubrica Acordo Ortográfico).
** Em Portugal, facto continua a escrever-se com c, bem pronunciado e audível, ao contrário do que se sugere na formulação de certas críticas ao Acordo Ortográfico, agravando eventuais confusões, como aqui e aqui se assinalou anteriormente.
O mau uso do português foi tema, de novo, do programa do provedor do telespectador da RTP. Na emissão do dia 18 p. p. Jaime Fernandes voltou a abordar o que lhe continua a chegar de reparos sobre «os (demasiados) erros ortográficos, de pronunciação e gramaticais» cometidos nas legendas e nos serviços de informação da televisão pública portuguesa. Nesta emissão de A Voz do Cidadão participou o editor executivo do Ciberdúvidas, o professor Carlos Rocha. O registo vídeo fica acessível, também, na rubrica O Nosso Idioma (e onde se enumeram, igualmente, as ferramentas de apoio que a RTP disponibiliza internamente aos seus profissionais para o mais escrupuloso rigor no uso da língua portuguesa).
Ainda nesta atualização, o consultório traz três novas respostas: sobre o termo fução, como usar o topónimo Miratejo (nome de uma localidade nos arredores de Lisboa) e à volta de a expressão «máximo expoente» ser ou não uma redundância.
«Genocídio, tragédia, desastre e vala comum» – escreve-se no jornal digital Observador – foram algumas das expressões utilizadas por quem já reagiu ao naufrágio com imigrantes africanos que, no domingo, 19/04, terá feito cerca de 900 mortos. Uma situação que, por não ser isolada nem com termo à vista, põe, desgraçadamente, qualquer destas palavras na ordem do dia – e no léxico das nossas maiores preocupações. Recomendamos a leitura do artigo da autoria da jornalista Ana Cristina Marques – lembrando, ao mesmo tempo, o muito que se tem recomendado quando se trata de qualificar este tipo de acontecimentos... nada humanitários.
Realiza-se em 22 de abril p. f., na Universidade de Évora, a conferência Português, Língua Global. Mais informações no portal do Observatório da Língua Portuguesa.