Resumo da comunicação do professor universitário Fernando Cristóvão, na Academia das Ciências de Lisboa, por ocasião do centenário da morte de um dos maiores vultos de sempre da literatura em língua portuguesa.
Uma das mais relevantes efemérides literárias que se celebram neste ano de 2008 é, sem dúvida, a do centenário da morte do brasileiro Machado de Assis, autor de grande mérito na poesia, no teatro, no ensaio e, sobretudo, na ficção.
Obras como os romances Memórias Póstumas de Brás Cubas, Quincas Borba, Dom Casmurro, Memorial de Aires rivalizam, pela sua grande perfeição literária e capacidade de efabulação, com a obra de Eça de Queirós.
Machado é um escritor que tem fascinado a crítica, pelo melhor e pelo pior. Pela sua vertente "diurna", luminosa, de um estilo inconfundível, onde o humor problematiza tanto como a narrativa e pela sua face "nocturna", de um negativismo incuravelmente pessimista sobre a condição humana. Situação paradoxal esta que intriga o leitor e o provoca à decifração, daí o ter sido frequentemente apelidado de "bruxo" ou de "enigma". Enigma que, assim como a Esfinge de Tebas devorava os passantes no caminho incapazes de decifrar a adivinha que lhes propunha, também o mesmo acontece aos leitores de Machado: ou o leitor consegue encontrar uma saída (em nosso entender, concluindo pela positiva resultante da "radutio ad absurdum"), ou é devorado pela mesma descrença da condição humana.
Machado, como Eça, Alencar, Vieira, Baltazar Lopes, Craveirinha e outros, que uma comissão de "sábios" devia elencar, merecem ser integrados no Cânone Lusófono da Língua comum. Mas para quando a constituição desse "Thesaurus" ou "Cânone" da Lusofonia?
resumo da comunicação na Academia das Ciências de Lisboa no centenário da morte de Machado de Assis