Os dicionários consultados registam malnutrição. No entanto, o Dicionário de Erros e Problemas de Linguagem de Rodrigo de Sá Nogueira diz, na entrada Malnutrição, Malformação, o seguinte: «Estes dois termos são usados correntemente pelos Médicos. Se não estou em erro, estamos em presença de dois galicismos: malnutrition e malformation. Se também não estou em erro, do francês receberam formas paralelas os Espanhóis, os Italianos e os Ingleses. – Nem o Vocabulário da Academia, nem o Vocabulário de Rebelo Gonçalves, respectivamente de 1940 e 1966, registam esses dois termos. Deveremos por isso repudiá-los? Acho que não: estamos em presença de dois galicismos, como digo acima, mas também de dois termos técnicos consagrados, não só em França, como em Espanha, na Itália e em Inglaterra, ou talvez melhor, nos países de língua francesa, portuguesa, castelhana, italiana e inglesa. Apesar disso, não quero deixar de fazer aqui umas considerações. – Os termos malnutrição e malformação, em princípio, não são de formação regular dentro das regras da Morfologia portuguesa: em vez delas, o regular seria termos má nutrição e má formação, ou má-nutrição e má-formação, com hífenes ou traços de união, se se quiser considerar essas expressões unidades sémicas. – Porquê? Vejamos: – Como é sabido, a forma mal é um advérbio (também se emprega como substantivo, mas isso não interessa por ora), que corresponde ao adjectivo ‘mau’, como a forma ‘bem’ é um advérbio, que corresponde ao adjectivo ‘bom’. – Por outro lado, como é sabido, os adjectivos são ‘elementos que se juntam aos substantivos (ou expressões substantivas) para lhes qualificar ou determinar o sentido’, e que os advérbios são ‘elementos que (propriamente) se juntam aos verbos (ou expressões adverbiais) para lhes qualificar ou determinar o sentido’. Os advérbios são propriamente os adjectivos dos verbos (ou expressões verbais). – Sendo assim, está bem de ver que, para qualificar ou determinar os substantivos nutrição e formação, é do adjectivo ‘má’ que temos de nos socorrer, e não do advérbio ‘mal’; para qualificar ou determinar a forma verbal ‘nutrido’, e a ‘formado’, é do advérbio ‘mal’ que temos de nos socorrer, e não do adjectivo ‘mau’. – Diga-se, pois: ‘má nutrição’ e ‘má formação’, e ‘mal nutrido’ e ‘mal formado’. – Note-se que, creio eu, ninguém diria: ‘bem nutrição’, nem ‘bem formação’, em vez de ‘boa nutrição’ e ‘boa formação’. – Acima digo: ‘Os termos malnutrição e malformação, em princípio, não são de formação regular dentro das regras da Morfologia portuguesa (nem da das outras línguas citadas): em vez deles, o regular seria termos má nutrição e má formação, ou (melhor ainda) má-nutrição e má-formação, com hífenes ou traços de união; se se quiser considerar essas expressões unidades sémicas’. ‘Em princípio’, digo: é que, quando os elementos das formas verbais compostas se aglutinam ao ponto de se sentir nessas formas compostas uma unidade sémica, podemos dela derivar formas substantivas. Assim, temos em latim: male dicere > maledictio, onis > maldição (diferente de má dição); no português popular: mal criado > malcriado > malcriadez e também malcriação por má criação, que os Vocabulários da Academia e de Rebelo Gonçalves já grafam com um hífen: má-criação, tendo este último o cuidado de dar a forma plural más-criações, o que indica que se trata de um composto, de que não se perdeu a noção dos seus elementos componentes. – No n.º 1440, do Jornal do Médico, p. 120, encontrei ainda a forma malabsorção. É claro que, como nos casos anteriores, a boa forma portuguesa seria má absorção ou má-absorção.»