A expressão «ópio do povo» (ou «ópio social») tem origem numa obra de Karl Marx intitulada Crítica da Filosofia do Direito de Hegel, e a passagem exata é a seguinte:
«A miséria religiosa é, de um lado, a expressão da miséria real e, de outro, o protesto contra ela. A religião é o soluço da criatura oprimida, o coração de um mundo sem coração, o espírito de uma situação carente de espírito. É o ópio do povo» (tradução de Eduardo Velhinho).
Deste modo, como se pode verificar, a referida expressão quererá significar (de forma necessariamente simplista e até algo descontextualizada), na sua origem, que a religião funcionará como uma espécie de alívio ilusório, no que diz respeito ao sofrimento dos pobres, remetendo-se, como facilmente se perceberá, para os efeitos conhecidos do ópio: um forte poder hipnótico e euforizante, que alivia dores e sofrimentos.
Posteriormente, esta sugestiva expressão acabou por entrar no discurso quotidiano, quase se esquecendo a sua origem, digamos, político-filosófica. Hoje, por exemplo, é comum ouvir-se expressões do tipo «o futebol é o ópio do povo», «a política é o ópio do povo», ou «a televisão é o ópio do povo». Estas são, naturalmente, aceções metafóricas relacionadas com o efeito social hipnótico, euforizante e obnubilante, neste caso, do futebol, da política e da televisão, que contribuem eventualmente para desviar as atenções da sociedade (encarada de uma forma genérica) do que será verdadeiramente essencial, mas, provavelmente, mais doloroso.