De acordo com Celso Cunha e Lindley Cintra, Nova Gramática do Português Contemporâneo, p. 513, «os [verbos] intransitivos expressam uma ideia completa: O menino correu. [/] A criança dormiu. [/] O velho morreu. [/] Pedro viajou.», ao passo que «os transitivos [...] exigem sempre o acompanhamento de uma palavra de valor substantivo (OBJECTO DIRECTO ou INDIRECTO) para integrar-lhes o sentido: O menino comprou um livro. [/] O velho carecia de roupa. [/] Pedro deu um presente ao amigo.»
Valerá ainda a pena dizer que, na perspectiva do Dicionário Terminológico (DT), os verbos transitivos indirectos são verbos principais que exigem «um sujeito e um complemento indirecto (i)-(ii) ou oblíquo (iv)-(v).
(ii) A prenda agradou- lhe.
(iii) *A prenda agradou.
(iv) A Margarida vai a Paris.(1)
(v) A Margarida vai lá.
(vi) *A Margarida vai.»
Ora, tendo em conta os raciocínios apresentados, no enunciado sugerido pelo consulente, sentar-se é intransitivo, pois o constituinte «à mesa» não é exigido (ou seleccionado) pelo referido verbo pronominal. Assim, a ausência de «à mesa» em nada fere a gramaticalidade da frase em análise: «Ele se sentou [à mesa].»
Deste modo, numa perspectiva tradicional da análise linguística, podemos dizer que «à mesa» é um adjunto adverbial (= complemento circunstancial) de lugar onde (Cunha e Cintra, op. cit., p.154). Se tivermos em conta abordagens mais modernas, digamos assim, o referido constituinte será classificado como um modificador verbal («função sintáctica desempenhada por constituintes não seleccionados por nenhum elemento do grupo sintáctico de que fazem parte. Por não serem seleccionados, a sua omissão geralmente não afecta a gramaticalidade de uma frase.» — DT).
1 Segundo o DT, «oblíquos» são complementos seleccionados pelo verbo, que podem ter «uma das seguintes formas:
— grupo adverbial (iii).
— a coordenação de qualquer uma destas formas (por exemplo (iv).
*O João foi-lhe.
(ii) O João gosta [de bolos].
*O João gosta-lhes.
(iii) O João mora [aqui].
(iv) O João vive [aqui ou em Lisboa]?»