Segundo Cunha e Cintra, na Nova Gramática do Português Contemporâneo, o «discurso indirecto pressupõe um tipo de relato de carácter predominantemente informativo e intelectivo, sem a feição teatral e actualizadora do discurso directo», p. 632. Por essa razão, as regras do discurso indirecto previstas nas gramáticas apontam sempre para uma situação de discurso distanciado em que alguém informa acerca do que outrem disse. Ou seja, o narrador, ou locutor, incorpora no seu próprio discurso o discurso das personagens, ou dos interlocutores. A par desta situação, os autores da gramática já indicada apontam ainda para a possibilidade de narrador e personagem se confundirem. Dão como exemplo a seguinte frase: «Engrosso a voz e afirmo que sou estudante», p. 632.
Temos, pois, num discurso da primeira pessoa, a inserção de um verbo declarativo que introduz uma completiva, como acontece no discurso indirecto, apesar de as marcas serem de primeira pessoa. Creio que o mesmo acontece em outros contextos que não obedecem estritamente às regras gramaticais previstas. Isso acontece sobretudo quando, em presença, se altera um discurso directo em indirecto, quer por repetição da mesma pessoa quer por interpelação de outro. Nesta situação, apesar de haver uma «feição teatral e actualizadora do discurso directo», como referem os autores da gramática já citada, ocorre muitas vezes a introdução do verbo declarativo e subsequente oração completiva, como nos exemplos abaixo:
1. «Estás a dizer que vais ao cinema?»
2. «Disseste que ias ao cinema?»
3. «O que disseste?»
«Disse que vou ao cinema.»
O problema que se levanta a um professor é saber até onde ir na explicação que apresenta aos seus alunos. E isso dependerá sempre do nível de conhecimento e de maturidade linguística que a turma, ou o aluno, tiver e, claro!, da decisão do professor.