Caro João Celindo, creio que as regras do hífen aplicadas ao prefixo anti- pedem traço de união quando a palavra a que se junta este prefixo tem vida própria e começa por h, i, r ou s, como por exemplo em anti-sátira, anti-semita, anti-séptico, anti-sepsia, anti-sifilítico, etc.
Assim, teria de ser anti-segregação.
Eu não seria, contudo, tão peremptório acerca do estrangeirismo "apartheid". Esta palavra designa rigorosamente o sistema de segregação racial que, durante muitos decénios, esteve em vigor na África do Sul. Podemos traduzir "apartheid" por segregação racial. Mas segregação racial é expressão mais ampla. Engloba o "apartheid" e demais formas de segregacionismo racista que existiram na Alemanha hitleriana e existiram ou existem noutras épocas e regiões do mundo.
Por analogia, poderemos empregar o termo "apartheid" para indicar a segregação racial que se pratica aqui e ali. Mas não o estamos a aplicar no sentido pleno que tinha na África do Sul, onde designava uma forma muito específica de desumanidade económica, social, cultural e política. Para traduzir "apartheid" numa só palavra conheço apenas um termo: "apartheid". Daqui a cinquenta anos, poderá ser mais abrangente. Como aconteceu, por exemplo, com holocausto. Mas, por agora, é o que é.
Claro que, para evitar repetições, podemos empregar segregação no sentido de "apartheid". Mesmo no anterior contexto da África do Sul. Não, todavia, com este sentido num contexto qualquer. Como João Celindo sabe muito bem, pode haver segregação que não é racista: segregação sexual, segregação etária, segregação sanitária, segregação religiosa, segregação social por motivos económicos e culturais... E lembro-lhe a lei biológica da segregação (quando indivíduos de uma espécie emigram, separando-se dos restantes, podem originar nova espécie). Recordo-lhe que segregação é separação, isolamento, secreção. Significados tão diversos!
Tudo isto – ou seja: esta conversa simpática – porque um prezado consultor de Ciberdúvidas, Rui Ramos, descobriu uma insuficiência nos tratados ortográficos em vigor e resolveu imolar-me no altar da minha ignorância. A "pergunta", caro João Celindo, era sobre hibridismos formados com prefixos. Ainda se lembra?