Na tradição da gramática normativa portuguesa mais antiga considerava-se «pronúncia afectada» a que não correspondia ao padrão, que se considerava “puro”. Quem leia uma edição antiga do Prontuário Ortográfico (8.ª edição, Lisboa, Empresa Nacional de Publicidade), de Neves Reis e Magnus Bergström, compreenderá que, à época em que a obra foi escrita, se acreditava que falar correctamente uma língua raramente podia admitir variantes; este pensamento definia como barbarismos não só os estrangeirismos, mas também certas variantes de pronúncia que hoje já não são vistas como erros. Vale a pena transcrever as considerações de Neves e Bergström sobre os barbarismos:
«A convivência com os clássicos, através da leitura constante e cuidada das suas obras, incute no estudioso ou naquele que pretende ser escritor o culto entusiástico da pureza da linguagem, em que as palavras ou expressões se empregam com beleza luminosa. Macular essa pureza, imposta pelos que falam e escrevem com primor, representa um vício, e tal defeito origina o barbarismo, sempre constituído por: 1) emprego de palavras ou frases estrangeiras; 2) emprego de arcaísmos; 3) emprego de neologismos; 4) incorrecta pronúncia, escrita, formação e flexão dos vocábulos.»
Nesta perspectiva, considerava-se que, em relação à palavra em apreço, a pronúncia correcta era a que dissimilava o primeiro i (se estiver em posição átona) em relação ao segundo, passando esse primeiro i a pronunciar-se como e mudo, cujo símbolo do alfabeto fonético internacional é [ɨ]: F[ɨ]lipe; m[ɨ]litar.
Esta regra é ainda hoje válida para o português europeu padrão, mas a questão das variantes de pronúncia alterou-se um pouco, e hoje há maior tolerância em relação a elas. Há, pois, que aceitar que na pronúncia brasileira se pronuncie o i nessa posição como o som [i]. Por outras palavras, as pronúncias brasileiras [mili'taR] ou [mili'ta] são legítimas no contexto brasileiro. No contexto português, a norma ainda vê tal pronúncia como variante à margem da que é padrão, mas adequada dentro de certas pronúncias regionais.