O novo dicionário da Academia das Ciências de Lisboa tem virtualidades, que já foram indicadas por mim em Ciberdúvidas; no entanto, no seu propósito de ser “contemporâneo”, foi excessivamente ousado nalgumas soluções; sobretudo nos casos em que violentou a índole da língua.
Posso, p. ex., aceitar `dossiê´ vinda duma língua irmã e porque a pronúncia é efectivamente com e semifechado.
Mas não consigo, p. ex., aceitar *stresse, que considero uma subserviência à língua inglesa. Como tenho dito, o grupo inicial st sempre se converteu na língua em es (ex.: estádio do latim `stadiu-´, espaço de `spatiu-´, etc.) e continua a converter-se em muitas palavras vindas do inglês (ex.: estoque, estafe, estande, estandardizar [adoptado na própria Academia], estêncil [adoptado na própria Academia], etc.). Como igualmente sempre concluo, a desculpa de st inicial vir do latim não colhe.
O meu critério no estudo da língua, de permanecer aberto à inovação, não me impede de respeitar escrupulosamente a índole do património, tal como o recebemos na nossa `herança social´. Penso que toda a modificação profunda deve ser ponderada e obter aprovação da grande maioria dos `herdeiros´. Por muito que nos consideremos detentores da verdade ou do poder (poder de que se arrogou a Academia no seu propósito de ser normalizadora neste dicionário), a história da língua tem de ser respeitada sempre, porque as palavras trazem consigo a evolução de muitas gerações de falantes.
A minha posição, com mais pormenor, quanto a soluções discutíveis do Dicionário da Academia das Ciências de Lisboa, 2001, está na Parte I do «Prontuário» da Texto Editora, última edição.
Ao seu dispor,