Gostaria de fazer um comentário de lingüista que para minha satisfação pessoal vai ao encontro da resposta dada pelo Rui Ramos. Ele está correto não só no nacionalismo mas, igualmente, na justificativa da resposta que ratifica a anteriormente dada.
Nem tudo o que está "atestado" pelos dicionários se encontra em uso corrente entre os falantes de uma língua, independentemente do nível de educação formal. E muitas coisas que não se encontram "atestadas" pelos dicionários revelam um uso constante e indubitável pelas mais diversas camadas sociais, veja-se, como exemplo, algumas dúvidas já respondidas sobre termos usados por políticos e jornalistas e de alcance (e aceitabilidade) nacional através da imprensa escrita e falada.
Para trazer um embasamento bibliográfico, menciono apenas a tradução portuguesa da obra Os actos de fala do filósofo da linguagem John R. Searle, pela Livraria Almedina, 1984:
«Significação é mais que uma questão de intenção, e, pelo menos algumas vezes, é também uma questão de convenção». p. 67
Não basta que um termo exista para que ele signifique. Os termos precisam não só existir, mas, também, ser usados com determinado sentido por um grupo considerável de falantes da língua em circunstâncias equivalentes de forma que entrem no léxico mental dos referidos falantes, os quais ao ouvirem o termo vão automaticamente relacioná-lo a um determinado referente no mundo real. Caso esse procedimento não ocorra, ou ocorra dificilmente e apenas de forma espúria com determinados indivíduos da comunidade, isso quer dizer que esse termo apresenta baixa aceitabilidade ainda que faça parte do acervo de palavras da língua.
No caso específico de angolano/angolense, parece-me que o segundo termo é apenas a materialização de uma possibilidade que existe na língua portuguesa para a adjunção de determinados sufixos a substantivos, mas não se confirma no uso efetivo da língua pelo grupo de falantes em questão. Da mesma forma, é possível preconizar a existência de lisbonense. Porém, que eu saiba, nenhum indivíduo originário de Lisboa vai dizer outra coisa que não lisboeta. Além disso, há uma outra conexão referencial para o termo angolense, o que justifica amplamente os argumentos apresentados.