«"Vão haver" muitos troços de Carnaval» - anunciava um dos eficientes repórteres do trânsito da rádio portuguesa, alertando os automobilistas mais desprevenidos para esta terça-feira de máscaras, folguedos e cabeçudos de ocasião. Confirmava aqui dois aspectos comuns a tais repórteres: a utilidade e os pontapés na gramática. A forma como empregam o infeliz verbo haver, essa, então, é um Entrudo diário.
Percebe-se que estão a falar «em directo». Entende-se que o fazem sob pressão. Mas poder-se-iam esforçar um pouco. Como ninguém lhes acode, cada um que tente aprender à própria custa. Na rádio portuguesa, já ninguém ensina ninguém - excepto, para conquistar audiência, o espectáculo pelo espectáculo. Uma espécie de Carnaval para todo o ano.
Só não sugerimos cortejos alegóricos ao modo disparatado como se conjuga o verbo haver, porque o problema, lamentavelmente, não se confina aos repórteres do trânsito, nem aos sócios do Sindicato dos Jornalistas, nem a qualquer outro grupo profissional (incluindo a classe política). Os inimigos do verbo haver estão em toda a parte.
Pô-los a desfilar com orelhas de burro era Entrudo que não cabia nas ruas de Lisboa.