Sobre a sintaxe enredada nos media, um artigo de Ana Martins no Sol.
É consternador ver erros ortográficos, erros de pontuação, abuso de estrangeirismos ou desfiguração das conjugações verbais em textos de imprensa. É ainda mais chocante a desvalorização tácita destes erros, sugerindo-se que a inteligibilidade do conteúdo do texto — o fim último do acto comunicativo —, afinal, sai incólume.
Vale a pena então olhar para outro tipo de erros — públicos, mas talvez não tão notórios — que, justamente, inviabilizam a compreensão do que se está a ler. Trata-se dos erros de sintaxe.
A sintaxe é a parte da gramática que estuda as relações gramaticais e de dependência das palavras na cadeia da frase e do texto. Um dos aspectos particulares abordados pelos estudos sintácticos diz respeito ao modo como uma palavra ou expressão retoma o conteúdo de outra palavra ou expressão já mencionada num segmento anterior da frase. Um dos processos mais frequentes é o recurso ao pronome.
Só que, quando não se domina eficazmente as leis que regem a estrutura da frase, o pronome fica a pairar, sem referente para o qual possa remeter:
«Um estudo realizado na Universidade de Aberdeen, na Escócia, sugere que demonstrar interesse por uma pessoa pode torná-la mais atraente aos olhos desta.» (Sol, 9/9/08).
Tentemos aplicar este "postulado": se o Zé demonstrar interesse pela Maria, o Zé torna-se mais atraente aos olhos da Maria? A Maria fica mais atraente aos olhos do Zé? Ou a Maria fica mais atraente aos olhos da própria Maria?
Agora imagine-se se tivéssemos um triângulo amoroso…
Artigo publicado no semanário Sol de 27 de Setembro de 2008, na coluna Ver como Se Diz.