A Organização Mundial de Saúde não gosta do nome monkeypox. E pede a nossa ajuda, a ver se arranjamos um nome menos feio. Diz a OMS que esta decisão de mudar o nome da varíola-dos-macacos «é uma forma de evitar ofensas a qualquer grupo cultural, social, nacional, regional, profissional ou étnico e minimizar possíveis impactos negativos no comércio, viagens, turismo ou bem-estar animal».
Isto é, procura-se um nome para o monkeypox que não prejudique ninguém, incluindo os macacos.
Como sempre, o que é interessante não é o nome da doença. É a atitude atrás do desejo de mudança do nome. Quem concluir que se procura um nome politicamente correcto para a doença — um bocadinho como alterar a palavra cancro para proteger o bem-estar dos caranguejos — cai na mesma esparrela.
Aquilo que tem graça é a atitude colonialista dos anti-colonialistas da OMS. É que monkeypox não é um problema mundial de saúde. É um problema da língua inglesa.
Ora a língua inglesa tem duas versões, correspondendo às duas grandes classes sociais. A primeira é germânica e geral e a segunda é latina (ou grega) e científica. Há um nome educado e um nome popular para tudo.
A versão popular é bem achada e imediata mas é grosseira. Enquanto nós chamamos varicela à varicela e varíola à varíola, os ingleses chamam chickenpox à varicela e smallpox à varíola, apesar de não se poder apanhar varicela de uma galinha e apesar de a varíola ter sido tudo menos uma doença small.
Assim como há o monkeypox, há o camelpox, o cowpox, o horsepox, o mousepox, o buffalopox, swinepox e outros, sempre com esta gracinha de juntar um pox ao nome do bicho que aflige.
Nós não temos esse problema. O nosso problema é ir atrás dos ingleses mais vernaculares, dizendo, por exemplo, doença das vacas loucas em vez de encefalopatia espongiforme bovina.
Afinal temos bom remédio.
Crónica do jornalista e escritor português, Miguel Esteves Cardoso, transcrita, com a devida vénia, do jornal Público, do dia 18 de agosto de 2022. Escrita segundo a norma ortográfica de 1945.